Dinorá

 

Após A polaquinha (1985), experiência que dialoga com a estrutura de romance, e depois de Pão e sangue (1988), reunião de contos escritos com toda maestria, recursos e linguagem que o consagraram (inclusive, sob o impacto do texto impecável de João Ferreira de Almeida), Dalton Trevisan inova, de fato, em Dinorá. Neste livro o contista mostra que é possível escrever conto do jeito que ele quiser, por exemplo, fazendo crítica como se fosse um crítico (o que ele também é). “Um conto de Borges” discute um texto do célebre escritor argentino, “Capitu sem enigma” traz argumentos para confirmar que a personagem-central de Dom Casmurro inegavelmente traiu Bentinho, enquanto em “Esaú e Jacó” a narrativa faz uma crítica demolidora ao romance homônimo de Machado de Assis. Há munição contra quase todos, para Curitiba e, em “Turin”, distribuída a ícones culturais da cidade. “Cartinha a um velho poeta” consegue traduzir o que foram, são e serão os chamados poetas de província: “não fosse pai, jurava nunca viu uma mulher nua. [...] Não sabe de que recheio os sonhos são feitos. Jamais leu no coração da amada, esse ninho de tarântulas cabeludas”. E há desconstrução, sugerida com ironia, do próprio autor em “Quem tem medo de vampiro?”. Não, Dalton Trevisan não se repete. É imprescindível abandonar lugares-comuns e ler, reler a obra do autor que a partir de Dinorá apresenta contos cada vez mais breves e implacáveis.

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