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Mostrando postagens de janeiro, 2014

Guevarinha

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– O que vocês fizeram por Curitiba? Guevarinha grita e anda de um lado para o outro na sala do apartamento da sogra. – O que vocês fizeram por Curitiba, hein? O militante do Partido da Revolução bate com a mão esquerda, fechada, e quebra o vidro de uma janela. Joana D’Arc, naquele momento companheira de Guevarinha, escuta o choro do filho de menos de um ano, Trotski, e segue até o quarto. – Me digam, as duas, o que vocês fizeram por Curitiba? Guevarinha, por hora, não trabalha. Espera a anunciada nomeação em um equipamento dirigido por algum integrante do Partido da Revolução. Participa de greves, distribui panfletos apócrifos, pinta em muros mensagens contra o Partido do Possível e segue na Marcha dos Vadios. Frequenta bares onde sujeitos que usam o mesmo uniforme, barba, roupa não lavada nem passada, banho adiado, calça jeans, mochila e All Star consomem alguns produtos – cerveja, bolinho de carne e rolmops – que, na opinião dele, lamentavelmente precisam ser troca

Resenha de Asa de sereia

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Uma parte da região central de Curitiba cresce, ocupa espaço e quase ofusca os outros elementos de Asa de sereia (Arquipélago Editorial: Porto Alegre, 2013), o mais recente livro de Luís Henrique Pellanda (em foto de Rafael Dabul). A rua Ébano Pereira, o entorno da Biblioteca Pública do Paraná e as praças Santos Dumont e Generoso Marques são, basicamente, o território por onde o cronista circula e, em alguma medida, a principal matéria-prima para os seus textos. Mas a geografia da província é apenas cenário, elemento periférico na proposta literária do autor. Isso fica evidente após a leitura de cada nova crônica que surge nas páginas de Asa de sereia . Pellanda não é apenas mero pintor de retratos urbanos. Ele é, também, um elaborador de frases. Para conferir, basta escolher ao acaso qualquer crônica. Em “Rei de Curitiba”, de repente, o narrador dispara: “qualquer osso, vocês sabem, é mais vital que a dignidade humana”. Mais que uma frase, é um tiro de canhão que desestabi