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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

O Souza da Ilha

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– Vai uma dose aí, patrão? Antonio sorri. – É a melhor batida da Ilha. Te deixa ligado, te deixa na pilha! Antonio levanta a mão direita, faz sinal de positivo para o vendedor e diz: – Quero uma. O vendedor para o carrinho, pega uma garrafa de vodka, despeja por alguns segundos a bebida destilada dentro de um copo onde tem gelo, leite condensado, morango e uva e, em seguida, coloca o conteúdo dentro de um jarro acoplado a um liquidificador manual.          Antonio recebe a batida em um copo de plástico, tira da carteira uma nota de dez reais e a entrega ao vendedor.          – Desculpe perguntar, mas o seu nome, ou melhor, o seu sobrenome não é Silva?          – Por que, doutor?          – Não sou doutor. Pode me chamar de Antonio.          – Eu sou o Souza.          – Souza, isso mesmo.           – Por quê? – Passei férias aqui na Ilha, faz tempo, e tenho a impressão de te conhecer. – Eu vendo batida há uns 20 anos. ##          O projeto de Antonio e

Exploradores do abismo

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Cristiano Castilho enfrenta a descoberta do universo adulto a partir de um olhar que deixa de ser infantil. Mellissa R. Pitta problematiza a impossibilidade de existir. Daniel Zanella encara o medo de amar. Dédallo Neves flerta com a morte. Castilho, Mellissa, Zanella e Dédallo sobrevoam as águas do abismo, respectivamente, nos contos “Alvorada”, “Da falta de existir”, “Noite em Antônio Maria” e “A morte crônica” Apesar de produzirem individualmente os seus relatos inventivos a respeito do assombro que é viver, eles seguem juntos, ao lado de outros 12 autores, 16 ao todo, nas 136 páginas do Livro dos novos , coletânea de contos publicada pela Travessa dos Editores. A obra, organizada por Adriana Sydor, reforça a tese: o Paraná é o Estado do conto – independentemente da vasta produção poética local, poucos (pouquíssimos) poetas são expressivos; romancistas nativos se impõem, mas ainda timidamente. O Paraná, ou com mais precisão: Curitiba é reconhecida literariamente por causa

De cenho franzido

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O tão festejado e anunciado humor da realidade tupiniquim não está presente na prosa e na poesia produzida por autores brasileiros contemporâneos. O recurso, no entanto, aparece em textos literários, mas — atualmente — é quase uma exceção Marcio Renato dos Santos Apesar de o brasileiro ser considerado, ao menos pelo senso comum, um sujeito bem-humorado, o humor não é predominante na literatura brasileira contemporânea. Evidentemente que há humor em obras de autores em atividade, entre os quais se destacam Antonio Prata, Angélica Freitas, Dalton Trevisan, Ernani Ssó, Fabrício Carpinejar, João Ubaldo Ribeiro, José Roberto Torero, Luis Fernando Verissimo, Mario Prata, Reinaldo Moraes e Roberto Gomes. Mas eles são minoria — e não é exagero afirmar: são quase exceção. Qual o motivo para esse fato? Há algumas explicações. Ernani Ssó, escritor e tradutor, tem a sua tese. “Acho que, em geral, as pessoas são bem-humoradas, não só no Brasil. Basta conversar com qualquer uma n

Uma nulidade da província

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"Emiliano Perneta foi uma vítima da província, em vida e na morte. Em vida, a província não permitiu que fosse o grande poeta que podia ser, e na morte, o cultua como o poeta que não foi." [...] "Emiliano fez poesia, como se fez poesia naquele tempo, a fim de ser recitada nas sessões litero-musicais dos colégios em festa no dia da árvore." [...] "Como explicar, então, a admiração de tantos paranaenses, Santa Rita, Ermelino de Leão, Nestor Vítor, Andrade Muricy, Tasso da Silveira, Erasmo Pilotto, por um mau poeta? É que, poeta medíocre, Emiliano foi pessoa encantadora, personalidade imponente, conversador mágico." "Emiliano", texto de Dalton Trevisan publicado no livro "Até você, Capitu?" (Porto Alegre: L&PM, 2013).

Paranismo e balas Zequinha

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"Resgatar a memória é isso: Emiliano, o nosso Rilke? Turin, o nosso Rodin? Dario, o Sócrates II nosso? Mossurunga, o nosso Beethoven? De Bona, o Miguelangelo nosso? Ufanismo paranista, o último refúgio dos colecionadores de figurinhas das balas Zequinha." "Turin", página 37 do livro "Até você, Capitu?", de Dalton Trevisan. (L&PM: Porto Alegre: 2013)