Como eu se fiz por si mesmo

 

Às vezes, Viver é prejudicial à saúde (1998) é o livro do Jamil que eu mais gosto. Passo, então, a cultuar O jardim, a tempestade (1989) como a obra máxima dele. Em seguida, tenho a convicção de que Os verões da grande leitoa branca (2000) reúne o que há de mais expressivo no legado do amigo que partiu em 16 de maio de 2003. No momento, Como eu se fiz por si mesmo (1994) é a obra do Jamil que mais releio, com a qual me encanto e lembro dele. Em 274 páginas, o Jamil retrata algumas nuances da realidade em Curitiba na segunda metade do século 20 ao mesmo tempo em que recria, em fragmentos, o seu percurso. A narrativa me arrebata desde a primeira vez em que li, por exemplo, que “trágico ou não, o destino é uma força cósmica, faz você colidir com os deuses. A carreira é um destino amestrado, decaído, dissuadido, sem fervor. [...] O destino é nocivo à tribo. A carreira é nociva a você”. A descrição de como e quando conheceu o mar é inesquecível, minutos antes de sua infância sumir para sempre na curva de uma estrada. Independentemente do assunto, seja a morte, o amor, separações, vexames ou aparentes fracassos, é o jeito como ele articula a narrativa que torna visível a potência de Como eu se fiz por si mesmo. Cada capítulo, são 47 ao todo, traz uma possibilidade de texto, seja crônica, carta, conto, jornalismo, roteiro para cinema, dramaturgia e/ou confissão. Na página 98, ao revelar como elegia os parceiros de jornada, identifico uma possível definição para quem sou e, por isso, gosto tanto do magnífico fragmento: “Pessoas sadias, que dormiram bem, que saem à rua com um sorriso meio idiota – essas me repelem. Prefiro os pálidos. Os cabides de roupas mal passadas. Os que nasceram em desavença. Os que têm uma única nota de cincoenta para cruzar o mar noturno”.

A convite do Jonatan Silva, escrevi sobre Como eu se fiz por si mesmo e outros 4 livros, conteúdo publicado no site do Sesc Paraná.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Livro sobre o skate no Paraná será lançado durante a 42.ª Semana Literária Sesc & Feira do Livro, em Curitiba