Altair Martins apresenta o Dicionário Amoroso de Curitiba
Foi numa fotografia que descobri Curitiba. Era meu pai, jóquei, campeão
do Grande Prêmio de Tarumã.
Continuei descobrindo Curitiba de muitos modos. Através do Rascunho,
esta que é a máxima publicação sobre literatura no país. Através do Vampiro da
cidade (o Marcio inventa que Dalton Trevisan existe, inventa até que ele mora
em Curitiba), do Paulo Leminski e do Jamil Snege. Se estive na cidade muitas
vezes depois, é um detalhe que este Dicionário Amoroso de Curitiba pode
espanar: Curitiba é o olhar de sua gente, esse olhar que o Marcio converte de
inúmeras formas.
Estes verbetes me descobrem curitibano também. Sou mais um dividido
entre o Atlético e o Coritiba, e talvez eu prefira ser a gralha do Paraná
Clube, cuja torcida, conta o Marcio, cabe numa van. Este Marcio é cronista
quando nos convida ao pastel da Brasileira, quando ilustra a fama verde da
cidade, adentrando os parques como o Barigui e o São Lourenço, e também quando
apresenta os museus, como o Guido Viaro e o olho sobre a água de Oscar
Niemeyer. É poeta quando nos fala da delícia do pinhão (delícia histórica, já
que, provavelmente, foi do pinhão que veio o nome da cidade – Corétuba,
“muito pinheiro” em língua indígena). E o poeta ainda recupera a mistura de
gente branca europeia com gente índia, traduzindo a cidade através da voz de
Karol Conká. É humorista quando analisa a timidez e a vaia dos vizinhos, quando
diz que os curitibanos, ao invés de autofágicos culturalmente, são em verdade
uns reclamões.
Mas há mais: ao recuperar a incrível história da loira fantasma, que
afasta os taxistas da noite curitibana, ou, ao me apresentar o Oil Man, aquele
super-herói de sua cidade que, com o corpo besuntado de óleo e só de tanga,
pedala pela capital dos paranaenses, para mim, o Marcio é o ficcionista de
Curitiba, da altura daqueles conterrâneos que admira e aos quais dedica uma
letra de seu dicionário.
Altair Martins, escritor.
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