O Último Gozo do Mundo


 

Hoje tem O Último Gozo do Mundo (Companhia das Letras, 2021), de Bernardo Carvalho: A notícia do lançamento de um livro do Bernardo Carvalho, pelo menos na última década, tende a ser um acontecimento, ao menos para quem acompanha a literatura brasileira contemporânea.

E este décimo terceiro título do autor cumpre a expectativa do seu aparecimento, ainda mais neste contexto.

O Último Gozo do Mundo pode ser uma resposta à pandemia, mas não apenas isso.

A protagonista é uma professora de sociologia que teve um filho a partir de uma única relação com um desconhecido. Durante a maior parte da narrativa, ela viaja, com o filho, em busca de possíveis respostas – e o desfecho é uma inacreditável surpresa.

Não foi spoiler comentar brevemente o final de O Último Gozo do Mundo.

Tão relevante quanto o encerramento é o durante, a narração enquanto ziguezague, solidão e angústia da personagem central:

"A quarentena foi uma guerra sem perspectivas palpáveis, contra um inimigo invisível. Agora era diferente. Embora iniciassem na autoestrada uma viagem que também os levaria por caminhos tortuosos, esburacados e poeirentos, através de campos e florestas cerradas, ao longo de despenhadeiros, com o sol da manhã pelas costas e o da tarde na cara, já não avançavam às cegas. Ela esperava que no final a viagem os contemplasse com uma visão de futuro".

Se o passado, para a protagonista de O último gozo do mundo, parecia cada vez mais esfacelamento e miragem, o futuro poderia nem se concretizar.

A narrativa de Bernardo Carvalho aponta para um dos efeitos colaterais da pandemia, tanto essa da realidade, como aquela que impacta o universo de O último gozo do mundo: a fragmentação.

"Com o isolamento, tudo ficou mais fragmentário. As notícias eram o único rumor da realidade comum, que resistia como um miasma ou um eco distante. Ficou difícil terminar de ler um romance, chegar ao final de um filme, ouvir uma conversa até o fim. A leitura do mundo tornou-se descontínua e episódica. O entendimento foi reduzido a capítulos".

Perda de memória e racismo, brilhantemente problematizado, também são questões que perpassam esta incontornável experiência literária.

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