Nós da província: diálogo com o carbono

 

Hoje tem Nós da província: diálogo com o carbono (Editora 7Letras, 2005), do Carlos Machado:

A Praça Osório, no centro de Curitiba, é obsessão dos narradores de Carlos Machado, principalmente nos primeiros livros do autor, hoje com 9 títulos publicados.

Em Nós da província: diálogos com o carbono, a segunda obra do escritor, a Osório é quase onipresente, seja mero trajeto de um assassino, no conto “Suavidade pálida de um dia de sol”, ou cenário recriado por um escritor, em “À mesma hora de todos os dias”.

Há uma tese sobre a Osório elaborada pelo narrador de “Éphémère”:

“Curitiba tem praças e mais praças, parques e mais parques, mas a praça Osório exerce um fascínio delirante, único e sem cabimento. A imagem da cidade é celebrada por esse lugar.” 

O narrador cita meninos que usam o chafariz como piscina no verão, para em seguida retomar a pensata:

“O sol sempre leva as pessoas a saírem de casa e caminharem por lugares, e quando vão à Osório encontram sempre coisas agradáveis para fazer, a praça parece estar sempre sorrindo em cores, músicas e pessoas, e quando chove, a praça parece se exibir ainda mais pedindo para que olhem sua beleza estonteante. Poucos o fazem. Usam a praça para cortarem caminho e irem à rua XV. Debaixo de chuva a coisa fica ainda mais fria: os olhares vão apenas para frente, impedidos de se abrirem ao redor pelos atropelos dos guarda-chuvas. Ignora. Mas mesmo assim a Osório sempre parece feliz. Sabe que tem sua função para os curitibanos, mesmo que seja de um vivo atalho.”

E neste local, de acordo com o narrador de “Éphémère”, caracterizado até por aspectos humanos, também é ambientado “O mais sôfrego dos trombones”, conto sobre a desilusão com a vida artística, tema que perpassa a obra de Carlos Machado: 

“Ele não sente a menor vontade de tocar nessa manhã, mas assim mesmo, contra sua vontade, abre a caixa e retira seu instrumento.”

O impasse do personagem, artista sem público, recebe um olhar compreensivo do narrador, nesta que é uma das mais expressivas narrativas do autor curitibano:

“Tinha vergonha de ser o que era: alguém falido na vida. A música, tão querida música, tornara-se sua maior inimiga. Doía ouvir belíssimas canções sendo tocadas pro nada.” 

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