Emiliano N. Ferreira resenha Mais laiquis

“Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.” A frase está na Bíblia, em “Eclesiastes”. Um leitor, um bom leitor, sem dúvida, conhece a máxima — o que não é o caso, por exemplo, do senhor Jandique de Araújo que, no dia 17 de março deste ano, publicou neste nobre espaço um artigo intitulado “Contemporâneo, divertido e arrebatador”, a respeito de “Mais laiquis”, o novo livro de contos de Marcio Renato dos Santos.
Apesar de favorável ao autor, o artigo de Jandique de Araújo pode ser definido como uma sequência de equívocos. No início da “análise”, Araújo afirma que “todos os textos da obra literária tratam do sucesso. Ou melhor, do fracasso.” O comentário não é preciso. Tive acesso a um exemplar de “Mais laiquis” e os 13 contos, de maneira geral, discutem a vaidade humana.
Não vou resumir, nem contar enredos. Mas, é importante mencionar que, no citado artigo, Araújo escreveu que não iria “soltar ‘spoiler’ (resumo do enredo), mas, em seguida, o comentarista resumiu 3 contos, o do cantor da banda punk, o da amante de um empreendedor e o do escritor que não escreve mas é famoso. Com isso, ressalto, Araújo entrou em contradição e não ofereceu reflexão ao leitor, apenas diluiu, de maneira leviana, 3 textos literários.
Pois bem. Em “Mais laiquis”, conforme comentei em parágrafo anterior, o escritor trata da vaidade, seja ao apresentar integrantes de uma banda de rock em fim de carreira que ainda almejam fazer sucesso ou mesmo ao mostrar um artista que atua em várias frentes e, devido à dispersão, não consegue resultado efetivo em nenhuma das muitas áreas em que milita – recebe apenas elogios de amigos. Nestes dois exemplos, e em outros contos, Marcio Renato dos Santos, por meio da ficção, não está meramente problematizando sucesso e fracasso, mas, na realidade, o escritor discute a vaidade, pecado capital que pode fazer qualquer humano deslizar para o inferno de um ato para o outro.
Além da falta de perícia ao analisar a sutileza da proposta literária de “Mais laiquis”, Jandique de Araújo se vale de lugares-comuns que não dizem nada, como, por exemplo, quando afirma que o texto do autor é “enxuto e ágil”. Texto literário que não é enxuto e ágil, em 2015, não é texto nem literatura — todo escritor tem a obrigação de apresentar um texto compreensível, fluente e sem gorduras.
Resta dizer que “Mais laiquis” é um bom, um ótimo livro, não pelas observações que Araújo cometeu no artigo “Contemporâneo, divertido e arrebatador”, mas porque Marcio Renato dos Santos trata da vaidade humana, o que diz muito sobre a maturidade do escritor — e não pelos elogios falhados de um comentarista vaidoso e, lamento dizer, superficial chamado Jandique de Araújo.
SERVIÇO:
“Mais Laiquis”, livro de contos de Marcio Renato dos Santos. Publicada pela Tulipas Negras, a obra tem 80 páginas, custa R$ 40 e o ISBN é o 978-85-917171-1-8. Lançamento dia 8 de abril, quarta-feira, a partir das 18h25, no Museu Guido Viaro (Rua XV de Novembro, 1.348, Curitiba – Paraná).

Conteúdo publicado originalmente no Indústria&Comércio.

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