A amizade ou Jamil Snege

O Eledovino Bassetto Júnior era o dono do melhor texto do jornalismo paranaense na década de 1990. Ler uma reportagem assinada por ele me dava vontade de abandonar a profissão. Naquele período, quando tudo parecia impossível, escrever um texto ou conseguir um emprego, o Eledovino me ajudou. Depois, foi ele quem abandonou a imprensa. A última vez que nos encontramos foi no show que a Relespública fez no Guairão, em 2008.

A gratidão que sinto pelo Eledovino é imensa e também diz respeito ao fato de que foi ele quem proporcionou, talvez aleatoriamente, o meu encontro com o Jamil Snege. O Eledovino tinha um site, o Guia Paraná, no qual foram veiculadas as primeiras resenhas que escrevi. O ano era 1998 e eu seguia pela Rua XV, da Praça Osório em direção a Santos Andrade e, todo dia, na Livraria Ghignone, a capa de um livro me desafiava. Era um macaco em frente a uma máquina de datilografia. “Macaco ridículo”, eu pensava. Até que no começo de um mês, sobraram uns reais e comprei Como eu se fiz por si mesmo, obra literária que me arrebatou.

Se resenhei o livro do Jamil? Talvez, não lembro. Um dia, o Turco telefonou me convidando para ir até a agência de publicidade dele, nas Mercês. Fomos amigos do primeiro encontro até o dia 16 de maio de 2003, quando ele faleceu. Devo muito ao Jamil, inclusive o fato de publicar neste espaço. Hoje, o meu texto tem aceitação. Em outubro, a minha ficção será veiculada em alemão na Feira de Frankfurt, na Alemanha.

Mas na década de 1990 as portas ainda estavam fechadas. O Jamil e eu ríamos muito. Das pedras do caminho, dos outros e, principalmente, de nós mesmos. Ele me apresentou autores, livros e viabilizou os dois primeiros empregos que tive. Mais do que a literatura e os caminhos da escrita, o que aprendi com o Jamil Snege foi sobre a amizade.

Conversa e risada de bar, tapinha nas costas, “zé-ruelagem” a céu aberto e like em postagem do Facebook é outra prosa. Amigo é aquele que permite o próximo passo. Amigo é quem, de fato, ajuda. Amizade, isso eu sei graças ao Jamil, é viabilizar o estar e o entrar no mundo. Por isso, segue meu abraço a vocês, amigos e amigas: Sandra, Eduardo Aguiar, Paulino, Thaísa e Valéria Teixeira, Diogo, Estela Sandrini, Rogério, Marciel Conrado, Rebinski, Dico Kremer, Omar, Guido Viaro, Dary Jr, Match, Kryminice, Fred Neto, Professor Aroldo, Relespública, meus familiares, Fábio Campana, família Cunha Pereira, José Carlos Fernandes e Luciana Vilas-Boas.

E, a você, meu grande amigo, Jamil Snege, de quem lembro todo dia nesses últimos dez anos.

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Publicado originalmente na página 11 do caderno Vida & Cidadania, da Gazeta do Povo, dia 8 de maio de 2013. Eis o link: http://tinyurl.com/c3uokcq

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