Baú de Ossos

 

Hoje tem Baú de Ossos (Ateliê Editorial, 2002), do Pedro Nava.

Desgracida (2010) traz narrativas e, ao final, a seção "Mal Traçadas Linhas" com cartas que Dalton Trevisan pode ter até enviado a Otto Lara Resende, Rubem Braga e outros interlocutores – os conteúdos talvez sejam ficção.

Vale transcrever fragmentos de uma missiva a Pedro Nava (1903-1984):

"Para o meu gosto, ainda melhor que o Euclides, o Nabuco, o Rosa, o Graciliano, etc. Você é todos eles e mais você mesmo. E que de graças de linguagem, que achados de anacolutos, que sabença do bicho tão pequeno. E a palavra única, lindamente porca, soprada na orelha certa."

As observações de Trevisan são precisas, como é a ficção do autor – e o que o escritor curitibano diz está não apenas em Baú de Ossos (1972), o primeiro de seis livros, mas em todo o painel memorialístico do autor mineiro.

Há quem estabeleça pontos de contato entre o projeto de Nava e o de Marcel Proust.

Na carta transcrita no início desta glosa, Dalton faz uma observação a respeito:

"E sobre ele [Camões] e o Proust, meu caro Nava, você leva uma vantagem: eles são grandes, porém chatos. E você, grandíssimo Nava, nunca é chato."

Jamais chato, Nava é brilhante, como neste fragmento [poderia ser outro, mas, pelo fato de o autor citar Proust, é preciso transcrever este mesmo]:

"Então é isto... Nela eu entro, na velha casa, como nela entrava nos jamais. Esse portão de ferro prateado, eu o abro com as mesmas chaves da memória que serviram ao nosso Machado, a Gérard de Nerval, a Chateaubriand, a Baudelaire, a Proust. Todo mundo tem a sua madeleine, num cheiro, num gosto, numa cor, numa releitura – na minha vidraça iluminada de repente! – e cada um foi um pouco furtado pelo petit Marcel porque ele é quem deu forma poética decisiva e lancinante a esse sistema de recuperação do tempo."

Neste volume Nava recria as origens, a infância em Minas, a mudança para o Rio etc. – a habilidade para inserir os seus no percurso da História é outra potência do memorialista que, em diálogo com Eça, usou uma impactante frase de abertura:

"Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais."


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