É um conto, é um filme, é uma música é uma prosa

A solidão é o estado ao qual estamos condenados, seja eu aqui em meio a uma lan house onde eu, Marcelo Monteiro, digito este texto que será lido por você (ao menos espero que este texto venha a ser lido por alguém). Estamos nós, aqui, diante de um computador, cada qual diante de sua tela, e todos somos sozinhos, estamos sozinhos, estaremos sozinhos. Ninguém foge, escapa da solidão. E isso, e apenas isso, é permanente. E isso, estar na solidão, está problematizado no conto Uma jornada particular, que o escritor Marcio Renato dos Santos produziu para O Livro Branco, coletânea que a Record acaba de publicar. É uma coletânea: 19 autores foram convidados por Henrique Rodrigues para produzir contos a partir de canções dos Beatles. Há de tudo no livro: uns autores praticamente encenaram a letra, outros usaram a canção para inventar enredos, como é o caso do Marcio Renato dos Santos. Max Bell, o protagonista e narrador do conto do Marcio, está sozinho, e sozinho segue apenas com vozes em seu imaginário e mesmo algum contato com outros personagens, mas é sozinho que ele está, estará. O cinema entra no conto, já no título: Uma jornada particular é o nome de um filme de Ettore Scola (Una giornata particolare, com Sophia Loren). Mas, voltando ao conto, Max Bell vai se esconder dentro de uma sala de projeção e o filme fala com ele, num diálogo com um outro filme de Woody Allen (me fugiu da memória o nome do longa, e não vou procurar no google). Isso, no entanto, é detalhe. Uma jornada particular é um conto que conversa com a canção A day in the life, de McCartney-Lennon, a música que Marcio Renato dos Santos usou para compor essa obra em prosa que desafia quem lê, pela simplicidade e ao mesmo tempo riqueza de detalhes e originalidade de montagem. O conto é, enfim, pelo menos um filme, é uma música é uma prosa.

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