Toda vez que eu ouço o Solda, tenho vontade de ler Jimi Hendrix



O que veio primeiro? O som do Hendrix ou o traço do Solda? Não lembro e prefiro que assim seja: pouca ou nenhuma precisão e mais nebulosidade na memória. Mas que os dois se parecem, sabe: poderiam até ser gêmeos, se é que não são. Se não são gêmeos, gênios certamente ambos são. Fecho os olhos e sei que no aparelho de som é o Hendrix a solar. Da mesma maneira: é bater os olhos em um desenho e identificar que o traço é do Solda, mesmo que ele não assine. É isso: Hendrix e Solda não precisam assinar. O solo de Solda é inconfundível em All Along The Watchtower, da mesma maneira que a pegada do Hendrix é inconfundível naquele Almanaque do Professor Thimpor. Não é isso? O Solda, ao fazer versões de Bob Dylan, se apropriou das canções. Hendrix também: se ele ilustra um livro, por exemplo, de um cronista, bye bye prosa – o que fica para quem lê são aqueles traços, aquela maneira de mostrar o ser humano com as suas contradições, conflitos e delírios de todo santo dia, desde as cavernas. Se o Solda me deixasse tocar na banda dele, mesmo que fosse apenas uns minutinhos em uma jam, ai que bom seria experimentar a eternidade, encontrar um pote de ouro em um sorriso e beber Malbec sem sentir os efeitos do álcool. Viajo até Pasárgada quando leio os textos do Hendrix, ainda mais quando ele escreve sobre horóscopo ou lembra que coleciona listas telefônicas. Fui até a Lua ontem, e já voltei, claro, ouvindo o Solda solar em Little Wing. Mas, sabe, é segredo, portanto, não conte pra ninguém (por que ninguém mesmo iria acreditar): eu já estive na casa do Hendrix e nós conversamos durante horas: ele me contou e eu acreditei, sigo acreditanto: "um poeta sentado é um poeta em pé de guerra."

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