Meu amigo dá nome a uma linda e risonha cidade



Pois é, eu a desembarcar no Salgado Filho, caminhava pisando em ovos ou astros um tanto desligado e, ora direis, ouvir o som do aeroporto, vem a mensagem: bem-vindo a Sergio Napp! Ora, tchê, o que seria isso? Um, dois, três, passos, nenhuma ficha caiu, apenas a informação a se confirmar: Porto Alegre não se chamava mais Porto Alegre, a capital gaúcha tinha novo nome: Sergio Napp.


Bah! Gritei. Bah! Exclamei. Bah! Me esganei. E saí a correr, correndo. Amo Porto Alegre, adoro a cidade, gosto do povo, das ruas, do Guaíba e, finalmente, o meu amigo havia sido reconhecido. O meu grande amigo, a minha primeira amizade gaúcha construída ao acaso lá pela rabeira de 2002, pouquinho antes do nascer de 2003.

Entro em um táxi e peço para seguirmos rumo ao sul da cidade, onde fica a casa do Sergio Napp. Mas não digo onde pretendo ir, uma vez que a cidade, agora, se chama Sergio Napp, e talvez o condutor do veículo não acreditasse, sei lá.

Napp e a sua mágica, suas caixas de guardados, a sua memória das águas, a sua travessia, ele e as suas delicadezas do espanto, tanto sentimento, dias de verão, madrugadas acesas, ele, o letrista genial, autor da mais gaúcha de todas as canções do Rio Grande do Sul, Desgarrados, mais que hit, hino, prece, profecia, síntese de um povo, de uma alma, oh, ora direis, ouvir Sergio Napp.

Segui, dentro do táxi, janela aberta, vento no rosto, a ouvir o som da cidade Sergio Napp, mas tudo de repente se fez luz intensa demais e não pude mais perceber nada por meio da visão, apenas dos outros sentidos, e o táxi começou a voar; voando estava eu sobre o Guaíba, a me lembrar de tudo, de tanto, do dia em que o Sergio Napp me visitou, pegou o meu filho Vitor no colo, aqui no apartamento onde escrevo este texto e agora ele, o Sergio Napp, é nome da cidade, uma das que mais amo no mundo e, então, o motorista do táxi disse: aqui chegamos, na casa do seu amigo, na casa do Napp, o nome novo de Porto Alegre. Nem precisei pagar pela corrida, já estava acertado, tudo, tudo escrito, todo o destino previamente combinado e, com o cachorro a seus pés, com a esposa ao lado, ele abriu um sorriso e disse: Marcito, então, finalmente, voltou para cá, hein?

Chorar eu não chorava, mas em silêncio caminhei com lágrimas retidas pensando que, finalmente, esta cidade havia reconhecido o talento de um de seus mais ilustres habitantes. Se era 2087 ou 3086, não lembro, mas fazia calor de 23º e um por do sol a nos esperar.

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