Mais laiquis

 

Mais laiquis (Tulipas Negras, 2015), o meu quarto livro de contos.


Confira a resenha que o Ronaldo Cagiano escreveu, conteúdo publicado em 30 de agosto de 2015 no Jornal Opção, de Goiânia:


O escritor paranaense Marcio Renato dos Santos, que vem de uma trajetória ficcional consolidada com as publicações de “Minda-au” (Ed. Record, 2010), "Golegolegolegolegah!" (Travessa dos Editores, 2013) e “2,99” (Tulipas Negras, 2014), além da organização do “Dicionário amoroso de Curitiba” (2014), acaba de lançar o instigante volume de contos “Mais Laiquis” (Ed. Tulipas Negras, 2015).

Enfeixando 13 histórias, a obra mapeia o imaginário individual e coletivo da vida e das re(l)ações contemporâneas, notadamente dominadas pela virtualidade e pelo isolamento, características de uma sociedade aviltada em seus valores pelos tentáculos da tecnologia, do deus mercado e da visibilidade a qualquer preço.

Em clave irônica e uma inflexão crítico-satírica, o autor retoma situações do dia-a-dia, flagrantes deste tempo de aparências, superficialidades, usurpação da privacidade e fetiches da visibilidade, espelhando-se nas atitudes que governam as ações e atos humanos, cada vez mais seduzidos pela midiocracia/videolatria, em que o sucesso a qualquer custo e as exigências da sobrevivência na rede transformam indivíduos em seres obcecados pela exposição, transformando-os em diários ambulantes na rede, papagaios de pirata dos compartilhamentos, o que nos faz lembrar a definição de vidiotas e internéscios, a que se referia o saudoso poeta, tradutor e crítico José Paulo Paes.

O criativo título do livro remete-nos ao universo dos likes, prática adotada pelos internautas para se comunicarem por meio de postagens no facebook e instagram, com seus passos transmitidos on line, ancorados em selfies e outros dispositivos, exemplos cabais de transmissão de cada detalhe de seu comportamento mundo afora.

Ao mesmo tempo em que as histórias traçam o panorama desse ambiente tão sedutor, ao transpor para o papel o mundo que cerca essa imensa teia de usuários, deixa pistas para que o leitor questione as armadilhas dessa vida desconectada dos sentidos reais (afeto, toque, contato, encontros, conversas, etc.). Pois, cada qual, em menor ou maior grau, é um zumbi transitando noite e dia neste circuito em que tudo é extremamente intangível e não há espaço para sentir e perceber o outro, porque o exterior é que demanda a atenção, aquilo que é imediato e descartável. Os contos extremam esse sentimento do leitor, que ao mergulhar na densa estrada da tecnologia, percebe qual tênue é a fronteira entre vida verdadeira e existência fabricada.

Destacam-se no livro os diálogos secos, certeiros, cortantes e essenciais, (como em “O próximo show”, “Teletubbies” e “No dia em que te vi”) lembrando a técnica minimalista e eficiente de um Luiz Vilela, reproduzindo esse mundo tão real e interativo quanto caótico, reduzido à rapidez e ao recurso das poucas palavras, em que tudo parece ocorrer num fragmento de tempo e que tudo se comunica mais pelas imagens, pelos silêncios ou pelo não dito.

No fundo, esses contos querem transmitir o que é o sintoma dessa civilização contemporânea etiquetada pelas facilidades da comunicação, mas que deslocou o homem para uma galáxia insular: a individualidade, esse planeta de incomunicabilidade real e carnal (ditadura do ter rivalizando com o grito e/ou necessidades do ser), cercada de vazio, pela alienação e angústia por todos os lados, em que já não se sabe se lá fora é ficção ou vida (com no marcante “Boquitas pintadas”). Pois a despeito de querer a inclusão nesse mundo compartilhado, o que sobra é uma completa exclusão do mundo pulsante que nos rodeia.

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