Otsus: poema e interjeições
Hoje tem Otsus: poema e interjeições (Editora Insight, 2021), da Priscila
Prado:
Na página 116, a voz poética do poema
que dá nome ao livro explica:
"otsus/ – lágrimas ácidas/ sulcam-me a face:/ otsus/ é o avesso/ do alívio/ otsus é um susto/ ao contrário".
Título decifrado, a partir de versos da
autora, agora é seguir por veredas da obra – na página 93 há um texto poético a
respeito de lágrimas (mencionadas no poema que traduz o título do livro):
"poesia é lágrima// a lágrima
alivia/ equilibra/ lava// a lágrima é potência/ no recôndito do peito/ é ponto
de apoio/para alçar alavanca// a lágrima guardada/ transformada em mágoa/ é
veneno: mata// a lágrima contida/ deliberadamente convertida – vertida/ em
ato:/ a lágrima é lava".
Este poema indica a busca da autora por
aquilo que movimenta-se do interior para o externo – lágrimas exemplificam a
investigação artística de Priscila Prado.
Outro momento de excelência de Otsus é um breve poema, há outros, mas
"rapsódia" deve ser citado por dialogar com a ideia-força lágrimas:
"respiro dentro do movimento/
respiro dentro do redondo/ respiro dentro".
E entre capa e contracapa, dentro do
livro, os versos de Otsus estão
impressos em azul e laranja sobre páginas brancas – há palavras diagramadas com
cores sobrepostas que propositalmente provocam ruído visual.
A obra traz um marcador de páginas
transparente em tonalidade laranja que auxilia leitores e leitoras a decifrar as
palavras quase borradas.
Mas o que viabiliza "efeito
especial" (se for possível usar a desgastada expressão, por isso enunciada
entre aspas) são de fato os textos poéticos, como os dois já citados e este, o
da página 77:
"poema de vidro/ seus cacos multiplicam-se/
ao infinito".
Este poema (não apenas ele, mas vale
apontar o transcrito texto poético) dialoga com o legado de Helena Kolody
(1912-2004), autora de poemas longos e breves
– os de pouca extensão e alcance incalculável marcam o imaginário curitibano,
a exemplo de "Poesia mínima" que, possivelmente, faz parte das
referências da Priscila:
"Pintou
estrelas no muro/ e teve o céu/ ao alcance das mãos."
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