Forte apache
Hoje tem Forte apache (Companhia das Letras,
2018), do Marcelo Montenegro:
A poesia do Marcelo Montenegro dialoga
com cinema, prosa, letra e melodia de canções, dramaturgia, incluindo uma atividade
fundamental para qualquer encenação, nem sempre aplaudida, enfim – "Memórias
de um operador de luz":
"Ao descobrir que se tratava/ do
iluminador, a mulher/ elogiou a luz do espetáculo./ Ele agradeceu timidamente/
enquanto ela concluía:/ '... a gente nem percebe/ quando a luz muda'./ E isso –
especificamente/ isso – abriu no
iluminador/ um sorriso por dentro:/ mal sabe ela – e é vital/ que não saiba – o
quanto/ ele mexe na luz, para que/ pareça que ela não muda."
Publicada em 2018, a obra reúne 3
livros do autor, Forte apache (2017)
– título do qual foi transcrito "Memórias de um operador de luz", Garagem lírica (2012) e Orfanato portátil (2003).
Cada poema de Marcelo Montenegro traz
pelo menos uma imagem inesquecível – ou inesperados que tendem a arrebatar leitoras
e leitores –, e para comprovar a observação seguem exemplos do livro de 2017:
"(Um bombom de ternura/ com licor
de naufrágio.)", de "Spoiler", "Uma adega de/ ausências que
o tempo elabora", de "Bruxismo", "O charme nasce/ onde nos
esquecemos", de "Modinha" e "Cantar é roubar/ uns minutos
da morte", de "Literatura comparada".
Evidentemente nem só de imagens e
inesperados se faz a poesia de Marcelo Montenegro, melódica e narrativa.
O poeta possui amplo repertório e as
referências são substantivas, espertas, veredas rumo a horizontes inéditos, como
podemos apreciar no magistral "Ensaios":
"1./ Nelson Cavaquinho é o Ingmar
Bergman do samba;/ AC/DC, os James Browns do metal;/ Marcelo Nova foi o
Toquinho do Raul;/ o seu Francisco (a duas quadras daqui de casa)/ é o
Shakespeare dos pastéis; Ramones/ são Beatles arruaceiros; Faulkner, um
pedreiro/ experimental; Lou Reed é um Frank Sinatra/ roto; Carver é Hopper (em
formato conto);/ Tom Zé é um misto de Marcel Duchamp/ com Jackson do Pandeiro;
Seinfeld é Homero.// 2./ Beatles é uma perfeição/ a que a humanidade/ raramente
chega./ É Tchékhov, Rilke, Pelé/ e Coutinho, Nonas/ Sinfonias, Ilíadas,
Catherine/ Deneuves, pirâmides/ egípcias de três minutos."
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