Hoje tem Alguma poesia
Hoje tem Alguma
poesia (Record, 2001), do Carlos Drummond de Andrade:
Revisito a edição que compulso continuamente há mais de
duas décadas – uma impactante estreia da/na poesia brasileira, em 1930.
A repercussão de Alguma
poesia foi, é total em nosso imaginário, e um (e apenas 1) exemplo dessa
força são poemas e versos conhecidos até por aqueles que não leem poesia, como
"No meio do caminho".
Impossível não percorrer os clássicos "Poema de
sete faces", "Infância", "Europa França e Bahia",
"Política literária", "Quadrilha" e o mínimo-máximo
"Cota zero":
"Stop./ A
vida parou/ ou foi o automóvel?".
Esses sete incontornáveis poemas citados são
fundamentais para aquilo que parece o desde sempre, mas foram eles (entre
outros textos poéticos) – certamente no meu caso e também para outras centenas,
talvez milhares de leitores e leitoras – que nos formaram, iluminaram com
humor, ironia, linguagem ágil e surpreendente, noção de síntese e melodia,
entre outras possibilidades e horizontes.
Procuro no livro poemas que conheço, porém ainda não
fixados em meu imaginário, como "Epigrama para Emílio Moura", em que
a tristeza é onipresente e, com ironia, a voz poética sugere, ao que parece, sussurrando
ao leitor:
"Tristeza de guardar um segredo/ que todos sabem/ e
não contar a ninguém/ (que esta vida não presta)."
"Epigrama para Emílio Moura"é outra beleza, e
a partir de hoje passa a ser mais um clássico de minha coleção drummondiana.
E entre outros poemas ("Sociedade",
"Balada do amor através das idades", "O sobrevivente",
"Cidadezinha qualquer" e "Lagoa"), como não ser arrebatado por
"Explicação"?:
"Meu verso é minha consolação./ Meu verso é minha
cachaça".
"Todo mundo tem sua cachaça", continua a voz
poética, afirmando-se poeta, não alegre ("Sou até muito triste"),
continuamente fora de seu presente ("No elevador penso na roça,/ na roça
penso no elevador") e, após outros versos, há um desfecho – e que arremate!:
"Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que
entortou./ Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?".
Comentários
Postar um comentário