Mágica no absurdo

Gerson coloca a pílula na boca e engole a seco. Bebe café e, alguns minutos depois, tem a impressão de estar preparado para a reunião. A equipe da agência de propaganda vai apresentar a proposta de uma campanha sobre empoderamento feminino. A empresa de Gerson, ligada a frigoríficos e logística, não tem — em sua opinião — necessidade de investir na causa. Mas um distribuidor e outro acionista pediram apoio, e esses parceiros são fundamentais para o negócio. Helô já apresenta a proposta quando Gerson, até então distraído, olha a publicitária e se dá conta de que todos os convidados para o encontro estão sala. “Eu tive que me empoderar para assumir o meu lugar no mundo”. De acordo com Helô, a frase deve ser dita por uma diretora de empresa e repetida por uma cantora, uma profissional de mídias sociais, uma terapeuta, uma enfermeira e uma advogada. Gerson tem vontade de falar que a ideia é fraca. Ele acredita que empoderamento é consequência, principalmente, de estudo, repertório, c...