Primeira resenha de A certeza das coisas impossíveis
A professora da UEPG, pesquisadora e escritora Luísa
Cristina dos Santos Fontes publicou o texto "A certeza das coisas impossíveis", título homônimo de meu sétimo livro de contos, no jornal Diários dos Campos, de Ponta Grossa, dia 10 de março de 2018. Luísa faz um relato do lançamento, realizado no dia 3 de março no Café Tiramisù, em Curitiba, e também comenta aspectos do livro:
No
aconchegante bistrô Café Tiramisù, no Museu Guido Viaro, Curitiba, no último
sábado, o escritor Marcio Renato dos Santos lançou A certeza das coisas impossíveis, seu sétimo livro de contos. Com a
simpatia que lhe é peculiar, o escritor recebeu calorosamente muitos amigos,
familiares e escritores. A
presença do escritor Cristovão Tezza, uma referência nacional, chamou a atenção
do público — sinalizando o prestígio da literatura de Marcio Renato dos Santos,
destaca o jornalista Aroldo Murá. Além de Tezza,
estiveram lá os escritores Andrey Giron, Carlos Machado, Cezar Tridapalli,
Guido Viaro, João Lucas Dusi, Luiz Rebinski, e os jornalistas Aroldo Murá,
Katia Kertzmann, Omar Godoy e Walter Schmidt, entre outros... Estive lá,
representando os escritores da Academia de Letras dos Campos Gerais.
Entrar
em contato com a prosa de Marcio Renato dos Santos é uma experiência
inesquecível. Ele escreve bem, basta? Ele escreve muito bem; tem dicção única.
Publicado pela Editora Tulipas Negras, em edição esmerada, A certeza das coisas impossíveis é composto de onze narrativas
saborosas nas quais o autor seduz o leitor com uma prosa ágil, perturbadora e
permeada de uma criticidade incisiva.
Logo
na epígrafe destinada à abertura da obra, fica claro o quanto essa busca será
uma aventura de uma escrita em se tornar algo para além das palavras: “As
coisas não existem. O que existe é a ideia melancólica e suave que fazemos das
coisas.” (Hilda Hilst)
Por
meio de uma linguagem que entremeia o cotidiano, o ramerrão da vida diária, a
subjetividade das personagens e dos tempos narrados remonta um crescente
interesse em questões sociais mais amplas, transmutando, entretanto, em uma
penetração cada vez mais aguda de uma percepção microscópica do real. Uma
estrutura enigmática a estimular a invenção ficcional para além da
representação de uma suposta realidade advém desse petit pavê, tão típico de uma Curitiba mais que latente, calçamento
de relações entre o real e o irreal conformando uma insólita tapeçaria de
relações humanas. Tal condição se verifica, exemplarmente, na engenhosidade de
“Vertigo [passo a passo]” e “Um episódio na ex-quinta comarca”. .
Sua
literatura, à certa semelhança daquela de Trevisan, uma referência no gênero —
além das personas Marias, Ritas e Joões,aqui há o Xarlí, o Coronel, o Fulano —,
também pode ser considerada como ética, posto que existem princípios
ontológicos que se sobrepõem às personagens, causando-lhes os dramas, à medida
que são desafiados ou quebrados. No entanto, essas constatações se dão com indiscutível
naturalidade, segundo o curso natural das coisas, e sem nenhuma angústia
metafísica, pois haja o que houver, de qualquer maneira, a ordem termina
amplamente restabelecida. Os estratagemas empregados são de natureza variada:
“Não
gosto do que sou obrigado a fazer em troca do dinheiro que me garante quatro
refeições por dia, roupa, comida, bebida, celular, TV a cabo e outras despesas.
Mas sem este emprego, nem sei o que seria de mim. Talvez eu me tornasse um
desses vagabundos que me incomodam e que, hoje, tirei do meu caminho.” (p. 101)
Sua
emoção é trabalhada por um estilo vigoroso, implacável, e é esse estilo que
imprime às ideias uma potência legítima, impregnada, por vezes, de alto sopro
lírico (observar, por exemplo, o conto “Fluxo”). A arte é a mola dessa
transformação, pois não se trata de relatos reais mas de artifício, artifício
de uma realidade delicadíssima que passa a existir: a certeza das coisas
impossíveis.
Temos,
assim, efetivamente, uma obra arrebatadora, que nos comove
e nos provoca a lúcida admiração que só as verdadeiras obras de arte, no
sentido substantivo, conseguem nos provocar.
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