Relespública: Live at Leeds

O Rony Cócegas foi amigo e baterista do Raul Seixas. A frase surgiu dentro de uma van no último sábado. A Relespública tinha compromisso: apresentação no Leeds, um pub em Ponta Grossa.
           
Os 114 quilômetros entre Curitiba e o segundo planalto foram de prosa, “trocando papos e risadas, no intervalo da sessão”. Não lembro se foi o Fabio Elias, o Emanuel Moon ou o Ricardo Bastos quem falou que o meu ator favorito, que se tornou célebre com o personagem Galeão Cumbica, também era músico – dos bons.

Quando me dou conta, já estamos na Rua Dr. Paula Xavier, 1.070, em Ponta Grossa. O Lauro é o técnico que acompanha a banda. Ele conhece todo grave e cada agudo, e acerta o som. Havia alguma apreensão. Agora, há algumas horas de não fazer nada.

“Não sou músico profissional. Sou baterista da Relespública”, disse, ao recuperar fragmentos dos 24 anos da banda, o Emanuel Moon. Durante intervalo recente, quando o Fabio Elias deixou a Reles para flertar com um repertório romântico, o Moon fez concurso e se tornou bancário. Além de baixista, o Ricardo agora também é representante comercial. Só o Fabio sobrevive tocando e cantando.

A noite está velha. Nós que acompanhamos o percurso do trio, madrugada acesa por anos, estamos chegando aos 40. “Já não dou mais nada”. A frase é repetida por fãs e amigos da Reles que – por causa de filhos ou emprego na manhã seguinte – não podem mais estar nos shows deles em noites de dias úteis.

Mas veja só: estamos em Ponta Grossa. O sábado, 13 de abril, vai acabar. O domingo está por vir, e a Relespública entra no palco. Imagine: o pub tem instalações aconchegantes. Se quiser, há cervejas especiais e doses de outras bebidas. Mas hoje não preciso de nenhum anteparo.

Fabio, Moon e Ricardo são amigos. Com diferenças, silêncios, não ditos e uma força que os aproxima há mais de duas décadas. O porão está cheio. Mais de 300 pessoas. Então, todos sentem as asas de volta. Para alguns, elas foram extirpadas há anos. Em outros, estão apenas quebradas.

Mas bastam duas, três, quatro canções, e decolamos. Sobrevoamos os Campos Gerais por duas horas e, quando a Reles toca “Nunca Mais”, atingimos, enfim, Pasárgada: “Se há uma luz, quero tocar/ Antes de nunca mais”.

O Daniel para a van em um ponto entre a Serra de São Luis do Purunã e Campo Largo. Descemos, inclusive o Frederico Neto, que filmou o show e fez a foto que acompanha este texto. Não era nada. O veículo segue. Era domingo ainda, entre 4 e 5 horas. Pela janela, o céu escuro e a luz das constelações.

E alguns ecos da apresentação da banda que, de fato, se fez por si mesma.

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