EU SOU TREZENTOS...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,

As sensações renascem de si mesmas sem repouso,

Ôh espelhos, ôh Pirineus! ôh caiçaras!

Se um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!


Abraço no meu leito as melhores palavras,

E os suspiros que dou são violinos alheios;

Eu piso a terra como quem descobre a furto

Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!


Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,

Mas um dia afinal me encontrarei comigo...

Tenhamos paciência, andorinhas curtas,

Só o esquecimento é que condensa,

E então minha alma servirá de abrigo.


Poema de Mário de Andrade publicado em Remate dos Males (1930).

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