Fantasma

 

Hoje tem Fantasma (Record, 2001), do José Castello:

Este é um dos livros mais originais a respeito de Curitiba e, tenho a impressão, ainda pouco lido e discutido (como poderia vir a ser).

É uma das obras do José Castello que mais aprecio, e essa sintonia que estabeleço com Fantasma, desde o seu lançamento, em 2001, tem relação com a multiplicidade de assuntos e camadas do romance.

Carioca radicado em Curitiba, mesma condição do autor, o narrador é contratado para escrever uma narrativa sobre a capital paranaense.

Ele diz que escreveu o texto, mas não pretende publicar.

E um dos motivos, talvez o fato determinante, não o único, para o cancelamento de seu texto foi um encontro, em tese, por acaso.

 “Paulo Leminski não morreu.”

A frase dita ao narrador pela personagem Maria Zamparo altera todo o destino do protagonista.

Ele contrata um detetive, ou melhor, uma investigadora para procurar Leminski, apesar de saber que o poeta morreu, em 1989.

Mas, até para interromper um possível spoiler, vale destacar outras características da obra, por exemplo, comentários do narrador a respeito da relação Curitiba-Leminski – algumas pontuações são mais que relevantes, como esta:

“Em seus últimos dias, com o espírito machucado e o corpo em ruínas, Leminski se deixou maltratar pela Curitiba limpa e branca dos emigrantes, da classe média, [...], tornando-se motivo de desprezo apenas murmurado, mas feroz; uma vez morto, contudo, transformou-se numa espécie de herói local, e hoje, [...], dele resta uma memória esquartejada, que serve aos propósitos de vários senhores.”

Vale também transcrever outro fragmento sobre a mesma questão:

“Sim: há um Leminski que todos mataram, especialmente os que o amaram e mais ainda aqueles que o transformaram em mito; sujeito exterminado que Maria [Zamparo] agora me obrigava a reencontrar.”

Há a ironia, a visão de mundo do narrador, atravessada por humor, e ainda outras nuances nesta narrativa absolutamente irresistível em suas 382 páginas, com surpresas, inclusive cenas inesquecíveis, como a de um engraxate que, na visão do narrador, é tão concentrado em seu ofício com tintas que até pode lembrar um pintor dedicado em seu ateliê.

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