Petrolina



Carlos, meu caro, o seu romance mais recente, Petrolina, traz uma visão complexa do que é e pode ser a música, do que é e pode ser um músico. Busque o extraordinário, a voz narrativa ensina, a respeito do que um músico deve buscar. Testemunho de fé, a narração explica, sobre o que uma canção deve ser.

Mas, Carlos, meu amigo, falei que é a voz narrativa que ensina e explica, e você sabe, eu também sei, quem escreve é o escritor — apesar do narrador. Esta mensagem é confidencial, uma carta, um e-mail, que professores de literatura não vão ler. Eles ficam chateados quando alguém  afirma que é o escritor quem escreve. Para os especialistas, é o narrador quem narra. Mas sabemos, eu sei, que é você quem narra em Petrolina e em todos os seus livros (apesar dos narradores que você criou).

Carlos, amigo que não conheço pessoalmente, nunca estivemos ao vivo, Carlos, meu caro: Petrolina revela o quanto você conhece a respeito de música, do poder das canções, de como um álbum, como o Nevermind, pode fazer um sujeito, como o Zeca, abandonar uma banda, deixar o rock pra nunca mais. Petrolina ainda vai deixar em suspenso, no ar, por meio apenas da voz de Carmen, pistas sobre os motivos que fizeram o Sebastião abandonar a música.

Carlos, escritor único, você (ou a narração de seu romance) conseguiu mostrar, de um jeito surpreendente, como duas pessoas, ou os dois personagens, Oscar e Sebastião, podem reagir de maneira diferente, radicalmente oposta, a um mesmo fato. E, sabe, tudo bem eu falar sobre isso, não se trata de spoiller, somente você vai ler este comentário, afinal, já falei, essa mensagem é secreta.
  
Caríssimo Carlos, o que surpreende ainda mais em Petrolina é que o livro é uma viagem de uma família, mas principalmente de um sujeito, o Zeca, em busca dele mesmo. E durante o deslocamento físico entre São Paulo e Petrolina, ele vai se revelar aos leitores enquanto ele mesmo se reencontra. O movimento centro-interior, superfície-interior, deflagra várias leituras, e essas leituras ainda adquirem outras nuances devido ao impacto do que você, ou o narrador, fala sobre música.

Petrolina, Carlos, também é impactante por causa da habilidade que você (ou o narrador) demonstra ao misturar, sutilmente, mas sem provocar confusão, a voz dos personagens — habilidade presente em seu livro anterior, Super-homem, não-homem, Carol e Os invisíveis.

Carlos, já estou em férias, longe, distante do meu computador, prometi que não iria escrever nada nesses dias de folga, mas desde que terminei a leitura de Petrolina eu precisava te enviar essa mensagem, carta, e-mail, que — enfim espero que chegue até você.

Obrigado por Petrolina, obrigado por tudo (vou reler sua obra nesses dias).

Um grande abraço, de seu leitor,

Marcio.

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