Coletânea da jovem literatura paranaense



Livro dos novos, que reúne 16 contos de jovens autores radicados no Estado, será lançado dia 12 de dezembro, às 19h, na Livraria da Vila do Pátio Batel


Com a proposta de espiar o futuro, a Travessa dos Editores lança neste mês de dezembro o Livro dos novos, coletânea de contos que reúne 16 jovens autores radicados no Paraná. “As reflexões de uma geração que se apresenta para conduzir o mundo a partir dessas horas que vivemos constituem o carro-chefe da coletânea”, explica a organizadora e também escritora, Adriana Sydor. “É uma maneira de quase adivinharmos os novos rumos”, afirma.

A seleção abarca escritores entre 20 e 30 anos, que enviaram seus textos para a editora durante o último ano. Mais da metade é formada ou trabalha na área de comunicação, como jornalismo e publicidade. “Não foi tarefa fácil, pois há mais escritores prontos, maduros, preparados para entrar no mercado do que esperávamos inicialmente. Os escolhidos, na verdade, representam um número muito maior de jovens que têm preocupação e possibilidades com a escrita e a comunicação”, conta Adriana.

Para a organizadora, todas as ficções reunidas no livro levam à reflexão, em algum ponto, sobre as misérias humanas, as derrocadas morais e as dificuldades cotidianas. Elementos observados, por exemplo, em Hominho, conto de Yuri Al’Hanati, 27 anos, que explora uma brutal cadeia de acontecimentos ocorridos numa fazenda e iniciadas com o assassinato de um cavalo, numa prosa que encontra seu ritmo na fala do homem do campo, seca e precisa.

A relação de dominação, admiração e medo entre homem e natureza é, segundo o autor, um dos principais aspectos do texto. “O homem do campo, ao menos o descrito no conto, se sente ligado mais ao campo do que às pessoas, razão pela qual um cavalo ou outro animal de apreço constitui uma de suas poucas alegrias. Seu parente, deficiente mental, sobrevive graças às regras de civilidade e preservação da espécie desenvolvidas em sociedade, algo inexistente no reino animal”, explica o autor. “O homem, por mais que queira se sentir primitivo, bruto e natural, não abandona a herança social que o tempo lhe imputou”, completa.

Conectados com o presente

Em graus diversos, todos os autores da antologia estão sintonizados com o momento presente”, escreve Luiz Bras no prefácio do Livro dos novos. O autor de Sozinho no deserto extremo e Paraíso líquido, entre outros, declara que este foi o prefácio mais transgressor e provocativo que já escreveu. “De certo modo, ele é um antiprefácio. Na tentativa de salvar algumas almas jovens do inferno da boçalidade, preferi oferecer um prefácio-manifesto, em vez de um prefácio chapa-branca, pasteurizado”, afirma Bras, que invoca em seu texto o futuro pós-humano que se aproxima de maneira inexorável, com a revolução das novas tecnologias.

Quando essa revolução estiver alcançando o ponto máximo, no final deste século, tudo indica que a literatura já terá sido encostada, feito um gadget sem bateria”, profetiza o escritor, que clama por uma literatura de guerrilha a fim de manter viva a chama da ficção no formato livro. “Vocês são os novos guerrilheiros da irrealidade cotidiana, as narrativas aqui reunidas atestam isso. Já sabem denunciar, com raiva ou afeto, os males individuais e sociais, os muitos níveis da estupidez humana”, aponta.

A questão de gênero inspirou o pernambucano Arthur Tertuliano, de 26 anos, que reside em Curitiba há oito anos. Na sensível narrativa intitulada Guarda-roupas, ele aborda o relacionamento de uma filha (ou seria filho?) com seu pai viúvo. “Quando resolvi escrevê-lo, quis enfiar nele um monte de tipos de histórias que me interessam: as de amor, as infantis, as de ficção especulativa, as sobre relações familiares. A questão de gênero veio de uma inspiração muito clara: o Laerte [Coutinho, quadrinista]. Não à toa foi a ele que dediquei o conto”, explica Tertuliano, interessado na não-limitação do olhar do escritor como catalisador de sua ficção.

Ao narrar a trajetória de um cantor de bar, Marco Antonio Santos, de 24 anos, discute no conto Era aspectos como a memória e o fracasso. “Acho engraçado o apego do personagem ao passado. Sempre pensei no fenômeno dos bares de videoquê em Curitiba, especialmente nos anos 2000, e nas pessoas que faziam sucesso naquele contexto, e sobre como elas seriam em outros ambientes”, diz Santos. O sucesso na carreira de cantor de fim de semana do protagonista contrasta, por sua vez, com a desagregação de sua família e a infelicidade profissional dos dias de semana. “Me interessava essa alienação, o deslocamento do sujeito em relação à vida cotidiana”, expõe o jovem autor, que participa pela primeira vez de uma coletânea. “Talvez novas vozes tragam novas perspectivas, outras leituras, outras visões e ideias”, comenta ele.

Reflexão em primeiro lugar

A publicação de Livro dos novos reforça a preocupação da Travessa dos Editores com a boa literatura produzida em nosso Estado. Criada em 1994, a editora é conhecida pelo cuidado com o projeto gráfico, aliado ao catálogo que preza a reflexão crítica. A edição comentada e ilustrada do clássico Catatau, de Paulo Leminski, lançada em 2004 e hoje esgotada, é apenas um dos exemplares da linha editorial da casa, que já publicou importantes nomes da nossa ficção, como Jamil Snege, Wilson Bueno e Marcio Renato dos Santos.

Mais que a preocupação com o mercado, mais que o objetivo de vendas, mais que ocupar lugar de destaque nas livrarias, a editora pensa em devolver ao mundo o que faz parte dele de maneira livre e plena”, afirma Adriana Sydor. “Reconhecer a importância de quem começa agora a desenhar a literatura do Estado, do País e do mundo faz parte desse conceito”, declara a organizadora da coletânea.



Serviço:
Lançamento – Livro dos Novos
Data: 12 de dezembro
Horário: 19h
Local: Livraria da Vila – Pátio Batel (Avenida do Batel, n° 1868)
Mais informações: (41) 3079-9997

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