Natália diz que vai criar um personagem absolutamente original. Mostro os dentes, fecho a boca, ela quer saber qual o motivo da minha risada e sigo em silêncio. Repete que o seu plano é construir um protagonista inédito em âmbito mundial. Durante uma pausa em seu discurso, comento que também vale recriar algum personagem do Shakespeare ou do Dalton Trevisan, da Lucia Berlin, do Machado, da Clarice, da Hilda, da Lygia ou do Pirandello, entre tantas opções. Natália boceja. Digo que é possível elaborar um personagem a partir de pessoas: – Misture atitudes de um, nuances do comportamento de outro, um tique de um terceiro, a dicção e o silêncio de uma conhecida e, enfim, está pronto o seu Frankenstein. Aos gritos, ela diz que sempre desconfiou, mas agora tem certeza. Afirma que sou uma fraude: – León, você nunca me enganou! É um plagiador. Copia autores e a realidade. Esta, ainda não sei, é a nossa última conversa. Vamos romper a relação daqui a algumas linhas. Antes, no ent...