Por acaso memória

 

Hoje tem Por acaso memória, do Carlos Machado (Arte&Letra, 2021): O novo e nono livro do escritor curitibano marca uma transição em sua obra em progresso.

Se anteriormente Carlos Machado ambientava as narrativas em uma Curitiba inventada, mas com características e nomes de ruas da cidade, como em seu primeiro livro, A voz do outro (2004, contos) e também na novela Esquina de minha rua, (2018), em Por acaso memória o enredo é quase em um não lugar.

Quase porque a narrativa informa que a trama acontece em um balneário no Sul do Brasil – Curitiba é citada, mas tem pouca relevância.

O não lugar já estava esboçado em outros livros, especialmente na novela Olhos de sal, de 2020. E ao ambientar a ficção neste espaço sem detalhes, quase atemporal, (coincidência ou não) Carlos Machado amplia as possibilidades e força de sua literatura.

Por acaso memória apresenta a deterioração da memória de um personagem por meio de mudanças temporais. Quase no fim, Olavo, o protagonista, está em uma igreja, onde uma mulher grávida reza sussurrando e, então, ele é transportado para a infância (isso acontece em um mesmo e único parágrafo).

Outras transições temporais ocorrem durante Por acaso memória e, antes que eu esqueça, é importante fazer uma observação: há dois parágrafos comentei que esta narrativa é quase atemporal.

Por acaso memória acontece no Brasil em 1992, contexto em que o governo do então presidente Fernando Collor de Mello (que não é citado nominalmente na narrativa) anuncia, entre outras medidas, o bloqueio de cadernetas de poupança e investimentos em aplicações financeiras.

Houve mudança de hábitos de consumo, infartos, suicídios e, em Por acaso memória, Olavo – como muitos da realidade brasileira da década de 1990 – tem a sua rotina desconstruída e, na ficção, perde aos poucos, mas irreversivelmente, a memória.

Por acaso memória traz a esposa e menciona a filha de Olavo, dois insetos, o estampado na capa do livro e uma borboleta, mas não vou analisar esses elementos, deixando como sugestão para você, que leu (ou vai ler) a narrativa, também escrever um texto sobre a potente narrativa de Carlos Machado.

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