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Mostrando postagens de julho, 2021

Risque esta palavra

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  Hoje tem Risque esta palavra , da Ana Martins Marques (Companhia das Letras, 2021): Ainda estamos em julho e, apesar de cinco meses para 2022, desconfio que Risque esta palavra é um dos melhores livros de poemas publicados no Brasil neste ano. Mais que isso. Risque esta palavra é um dos mais impactante registros poéticos que apareceu no país há alguns anos. Risque esta palavra é tudo isso, e bem mais, por trazer dicção contemporânea que conhece a tradição e a reinventa com linguagem, ideias e versos surpreendentes. Até poderia ser, mais que livro, uma antologia: todos os poemas são os melhores, a começar por "História", em que há uma descrição inusitada de uma possível biografia (que pode conter dados sobre a autora): Trinta e nove anos, de manhã ela come um pão ("Ele tem uma história de 2 dias"), depois sai do apartamento ("que tem cerca de 40 anos"), troca com o vizinho palavras ("de cerca de 800 anos") e pisa numa poça ("com 2 hor

O mel do melhor

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  Antologias reúnem textos que muitas vezes são o primeiro momento de revelação literária para um futuro leitor — mas elas têm prazo de validade [Conteúdo publicado no Jornal Cândido 120, julho de 2021].     Marcio Renato dos Santos   No início de agosto, a editora Reformatório promove — por meio de lives — o lançamento de Geração 2010: O Sertão É o Mundo , antologia que reúne 25 autores brasileiros contemporâneos. Organizada pelo escritor e doutorando na Universidade Livre de Berlim Fred Di Giacomo, a publicação é uma espécie de continuidade de outras duas reuniões de textos literários, Geração 90: Manuscritos de Computador (2001) e Geração 90: Os Transgressores (2003), ambas organizadas por Nelson de Oliveira, ainda hoje discutidas. Mas esta nova iniciativa tem (e nem poderia ser diferente) as suas peculiaridades.   Fred Di Giacomo selecionou escritoras e escritores que nasceram fora de capitais, segundo ele, que anteriormente dominaram a cena literária do país, como

Onde nem quando

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  Joana sai do hotel, um, dois, três passos na calçada e a certeza: está na praia. Setenta, sessenta, talvez cinquenta passos a separam do oceano. Não realiza o ritual desde fevereiro de 2020, com mais precisão, desde 26 de fevereiro, Carnaval daquele ano, antes do início da pandemia. Hoje, tantos (quantos?) meses, mais de um ano depois, ela e quase todos podem experimentar quase tudo o que anteriormente era possível.    Os pés na areia, as sandálias em uma das mãos, a brisa toca o corpo de Joana e, se alguém observar, não é difícil ver, há lágrimas no rosto da mulher que veste biquíni escondido atrás de saia e camiseta – dentro da bolsa tem carteira, filtro solar, comprimidos, máscara e um objeto enrolado em uma toalha.    O mar.    Joana tem lágrimas no rosto e os dois olhos no horizonte azul das águas que, lá, em um ponto distante, parece, para ela, que se encontram com o céu, este de um azul mais claro, mas quase da mesma tonalidade que a cor do oceano neste momento – p

Quase surge um nada

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  Natália diz que vai criar um personagem absolutamente original. Mostro os dentes, fecho a boca, ela quer saber qual o motivo da minha risada e sigo em silêncio. Repete que o seu plano é construir um protagonista inédito em âmbito mundial. Durante uma pausa em seu discurso, comento que também vale recriar algum personagem do Shakespeare ou do Dalton Trevisan, da Lucia Berlin, do Machado, da Clarice, da Hilda, da Lygia ou do Pirandello, entre tantas opções.   Natália boceja.   Digo que é possível elaborar um personagem a partir de pessoas:   – Misture atitudes de um, nuances do comportamento de outro, um tique de um terceiro, a dicção e o silêncio de uma conhecida e, enfim, está pronto o seu Frankenstein.   Aos gritos, ela diz que sempre desconfiou, mas agora tem certeza. Afirma que sou uma fraude:   – León, você nunca me enganou! É um plagiador. Copia autores e a realidade.   Esta, ainda não sei, é a nossa última conversa. Vamos romper a relação daqui a algumas

Folk Singer

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Melhor nadar, Naldo

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  Naldo movimenta os braços, um de cada vez, há sincronia, barriga para baixo, nado crawl, sem bater as pernas.   Respira a cada cinco, seis, às vezes de oito em oito ou após uma ou duas braçadas. Para Naldo, respirar não representa dificuldade e ele nem planeja, apenas respira.   Se a Sandra estivesse por perto, mas em outro cenário, talvez dissesse que não está cansado, apesar das braçadas. Para a Thaís, também em cenário diferente, poderia comentar sobre a ausência de sede e fome há horas, tanto tempo, tempo que não conta e quase não percebe.   Naldo, no entanto, percebe a ausência dos movimentos de suas pernas. Perguntaria a Gabriela, se ela estivesse a menos de um metro, como é possível seguir apenas com braçadas.   Mas a Gabriela não daria atenção, o fim do relacionamento deles foi tenso – Naldo a traía com uma de suas melhores amigas, a Melissa.   Ontem ou hoje, no sonho de Naldo a Melissa pegou um livro da estante, e ao acordar ele não encontrou a obra que g

Enquanto

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  Sete garrafas seguem e Thomas não sabe em que mar cada uma delas está. Mais de vinte cartas já nas mãos de destinatários, centenas de e-mails lidos por interlocutores, confere e, até agora, não há resposta.   Para nenhum vizinho ou voyeur interpretar a movimentação dentro do apartamento como mensagem direta ou não, ao invés de fechar as cortinas, decide – enfim – usar o remédio prescrito pelo Doutor Fausto.   Cada comprimido contém 25 mg de cloridrato de sertralina. Thomas ingere o primeiro de uma caixa com trinta unidades – a medicação deve alterar o funcionamento do corpo, de acordo com o médico, em seis, sete dias.   Mas, antes de o cloridrato de sertralina atuar sobre a serotonina, e aliviar efeitos dos transtornos mentais, o composto químico vai provocar suor nas solas de seus pés.   Thomas sabe que tem algo errado, dois, três, quatro pontos a menos em uma escala de bem-estar de zero a dez, calcula.    Por telefone, o Doutor Fausto recomenda meio comprimido p

Cara de alface

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  Uma mulher passou por aqui, estava tudo limpo, sabe?, tudo, e ela deixou vazar de um pacote areia para gato, que coisa, não é mesmo? Não pediu desculpa, nem falou nada, olhou pra mim, e o olhar dela parecia gritar que eu era a culpada por alguma coisa, por tanto, por muito, por tudo, pode? Fiquei ali, bem quieta, calada, com cara de alface.   Escutei as frases, talvez um parágrafo se fosse para fazer a transcrição, e saí sem entender. Cara de alface? Alface, todos sabem, é a mais insossa das folhas de uma salada. Alface, nem todos têm consciência, mal lavada pode conter parasitas – quanta gente já foi contaminada por meio do vegetal? Alface, nem todos admitem, é o pior item do x-salada, confesse, você sabe disso, alface é o que sobra na mesa se na mesa tem algo além de alface, oh, alface, alface rica em manganês pode prejudicar o funcionamento da tireoide se consumida em excesso, alface que, devido ao seu não gosto, em mais de noventa por cento dos casos impede crianças e adultos

Take on Me

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Hoje!

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Manhãs de domingo

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Por acaso memória

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  Hoje tem Por acaso memória , do Carlos Machado (Arte&Letra, 2021): O novo e nono livro do escritor curitibano marca uma transição em sua obra em progresso. Se anteriormente Carlos Machado ambientava as narrativas em uma Curitiba inventada, mas com características e nomes de ruas da cidade, como em seu primeiro livro, A voz do outro (2004, contos) e também na novela Esquina de minha rua , (2018), em Por acaso memória o enredo é quase em um não lugar. Quase porque a narrativa informa que a trama acontece em um balneário no Sul do Brasil – Curitiba é citada, mas tem pouca relevância. O não lugar já estava esboçado em outros livros, especialmente na novela Olhos de sal , de 2020. E ao ambientar a ficção neste espaço sem detalhes, quase atemporal, (coincidência ou não) Carlos Machado amplia as possibilidades e força de sua literatura. Por acaso memória apresenta a deterioração da memória de um personagem por meio de mudanças temporais. Quase no fim, Olavo, o protagonista, e

As Canções Que Você Fez Para Mim

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Jeff por Adão

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Arte de Adão Iturrusgarai.   

Cuidado Paixão

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PLANET COPACABANA

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My Brain is Hanging Upside Down (Bonzo Goes to Bitburg)

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Carne e colapso

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Hoje tem Carne e colapso (Urutau, 2020), da Jessica Stori: A obra reúne poemas – às vezes a impressão é de que são poemas em prosa, já em outros textos a percepção sugere que se tratam de narrativas, e a dúvida não se desfaz: são poemas, narrativas ou poemas em prosa? São textos (performances) que desafiam classificações, fluindo híbridos, rebeldes diante de uma eventual autoridade que pretende classificá-lo(a)s. De fato, os textos-poemas irradiam rebeldia, não apenas de uma mulher, levando em conta a autoria, e sim da humanidade – a partir, sem dúvida, de uma potente, bem-informada e articulada voz feminina. O tom é de confronto, explicitado pela vocalização que conduz-enuncia os conteúdos – alguém em busca de liberdade, sem vontade de curvar a espinha e dizer o que se espera que seja dito, mas que para sobreviver aparentemente respeita o que e quem exige respeito e obediência: "eu quase escuto o patrão/ mas eu só consigo pensar em dinheiro". Um dos pontos altos des

O Tempo Não Apaga o Que É Amor

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Bora de Iborá

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Save A Prayer

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Cidadão Cidadã

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Blog do Tupan destaca a edição de 1 ano de "Às vezes, aos domingos"

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  O Blog do Tupan destaca a edição de 1 ano de "Às vezes, aos domingos", confira:   O primeiro ano de "Às vezes, aos domingos", projeto que dá visibilidade a autores paranaenses durante a pandemia, será celebrado por meio de um encontro com Luísa Cristina dos Santos Fontes e Maureen Miranda em 25 de julho, a partir das 17 horas, no Instagram @maureen_miranda. Seguindo o modelo da proposta criada por Guido Viaro e Marcio Renato dos Santos, elas vão se entrevistar, sem mediador, e ler textos autorais.   Até junho, Maureen e Luísa não se conheciam e, desde então, passaram a dialogar – virtualmente – a partir do convite que receberam para participar do encontro literário.   Luísa Cristina dos Santos Fontes está animada para a live. "Absolutamente sem roteiro e ao vivo, o bate-papo poderá seguir trilhas inusitadas, autênticas, surpreendentes, imprevisíveis. O público vai se surpreender e nós também. É desafiador", comenta.   "Acho superdes