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Mostrando postagens de março, 2020

A noite está velha

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Claudio desce as escadas do Bar Bashô e no palco uma figura com bigode diz: – Berinjelas/ voam/ pelas janelas. Mais de cinquenta pessoas aplaudem. Os gritos podem ser ouvidos na rua, onde um sujeito parecido com o Ignatius J. O'Reilly vende cachorro quente. O concurso semanal de imitadores do Paulo Leminski reúne dezenas de pessoas. Em algumas noites mais de cem lotam o espaço subterrâneo onde é possível beber vinho, consumir sopa e flertar. – Ananias/ come até mesmo/ melancias. Palmas para a performance verbal de outro sujeito com bigode, que pula do palco, pisa em cima de uma mesa e desaparece. Claudio pede uma Serra Malte, bebe dois goles, olha ao redor e se dá conta de que no Bar Bashô todos usam bigode, até as mulheres. Uma mulher está com o microfone nas mãos, mas ela não declama: – Agora é a segunda fase. Não basta declamar. É necessário dar provas multimídias, transar duas ou mais artes ao mesmo tempo.  Let's go . Aplausos. A m

Cositas Buenas

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Quarentena literária

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Um episódio na ex-quinta comarca

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 O Coronel passa ao lado de Moe, Larry e Curly, e nenhum deles diz oi, bom dia ou como vai? Talvez nem tenham percebido a presença do Coronel que, há onze anos, saiu de cena. Perdeu trinta quilos e parte do cabelo. Hoje ele usa tênis de corrida, calça jeans, camiseta e um casaco preto. Anteriormente, paletó e sapatos italianos eram o uniforme do Coronel, pelo menos no ambiente de trabalho. Mas as sobrancelhas pretas, os olhos verdes e o olhar, atento, são os mesmos do sujeito que, anteriormente, distribuía ordens, dinheiro, determinava o presente, reescrevia o passado e inventou o futuro para a Tulipas Negras, empresa que seu pai fundou e que ele, Coronel, transformou em um empreendimento lucrativo. Se Moe, Larry e Curly não perceberam a presença do Coronel, ele observou com atenção o trio. Ao caminhar por uma rua com pouco movimento, o Coronel analisa que os três envelheceram, mas fisicamente não mudaram tanto desde o tempo em que ele frequentava a empresa. Nos últimos quatro,

Stardust

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Seria

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Diego aceita o convite, que mal tem beber duas, três, quatro, cinco, seis, sete ou mais doses? E como recusar um happy hour com a Thaís, a filha do Ernesto, um dos sujeitos que desde sempre ajuda Diego a realizar tudo o que ele, Diego, realiza? Nem o fato de Thaís estar acompanhada, de quem mesmo?, um novo namorado?, o incomoda. Faz calor, mais de trinta graus, temperatura perfeita para cervejas e conversa, conversa e cervejas que podem alargar qualquer horizonte, programa perfeito para driblar a rotina de uma terça-feira, por que não? Caminhar ao lado do casal pelas ruas do bairro arborizado é, para Diego, agradável – mais que isso até. A brisa refresca o seu corpo, o lilás deste fim de tarde também faz com que a situação se apresente, para ele, inédita. E tudo fica ainda melhor quando eles entram no bar. Frederico, o namorado de Thaís, comenta que há um grupo de amigos ali, pede licença e vai até a mesa onde eles estão para cumprimentá-los. E, sem a presença de Frederi

Relespública [Raridades - Bootleg]

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Vertigo [passo a passo]

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Rômulo entra na loja que conserta sapatos. O estabelecimento funciona há meio século e é frequentado por pessoas que, ao invés de comprar produtos novos, trocam a sola ou encomendam conserto. Mas algo deve estar errado. Rômulo não costuma usar esse serviço. Ele é consumidor de sapatos italianos. Quando seus produtos estragam ou gastam devido ao uso, ele compra novos, muitas vezes durante as temporadas que passa no exterior. Esse personagem, o Rômulo, permanece algumas horas de segunda a sexta em um imóvel de duzentos metros quadrados. Quem passa em frente à casa não desconfia que ali está instalado um escritório que, em alguma medida, mantém o equilíbrio da sociedade. O negócio é sigiloso, envolve diretamente menos de dez pessoas e funciona. Mais que tudo, movimenta dinheiro. E dinheiro é o que define e justifica a presença de Rômulo neste e em outros enredos. Já o sujeito que está dentro da Sapataria Central se chama Fulano. Ele e Rômulo são parecidos fisicamente, os dois

Murder Most Foul

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Deu ruim (Vendetta)

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Já perdeu a chave de casa? Ruim, né? E um voo? Pode ser complicado. Esqueceu a carteira em cima de um balcão? Acontece. Milagre se alguém a devolvesse com todos os cartões e o dinheiro, mas não devolveram. Uma foto sumiu e a primeira edição de um livro do Campos de Carvalho que você emprestou ano passado ninguém sabe onde foi parar. Aquele vinil da sua coleção, um Lou Reed raro, e o DVD do Fritz Lang também desapareceram. Deu ruim. Mas, sabe, tem coisa pior, bem pior. Perdi uma coisa. Pense em algo valioso, inestimável, insubstituível – aquilo que pra você não tem preço, apesar do valor. O seu carro. O apartamento. A grana economizada durante anos. Os vinhos da adega. A boneca inflável, aquelas gramas de pó ou o quase meio quilo de fumo que estavam guardados no armário. O iate, o videogame, uma bike, a casa da praia, o relógio de pulso ou a sua coleção de gravatas. Imagine algo que, de fato, tem importância. Uma pessoa. A filha? A amante. Ou então o gato, o pônei,