O Homem e Sua Sombra
Hoje tem O Homem e
Sua Sombra, do Affonso Romano de Sant'Anna (Alegoria, 2006): O intelectual
e poeta mineiro radicado no Rio escreveu 48 breves poemas a respeito da relação
nada tranquila entre o ser humano e o seu lado sombrio. É possível compreender
cada texto poético como uma possibilidade de ser humano com a sua respectiva
sombra.
O leitor é apresentado a personagens que possuem sombras
perfumadas, assassinas, mudas, tagarelas, divertidas, divididas, enfermas ou
ausentes, entre tantas possibilidades.
Os versos e os poemas se materializam e uma sombra pode
se insinuar ao leitor sugerindo: os personagens criados por Affonso Romano de
Sant'Anna são apenas um, fragmentos nossos ou nossas complexidades traduzidas
em sujeitos poeticamente dispostos nas páginas desta obra singular.
A exemplo do que fez durante anos analisando competentemente
obras literárias, como em Análise
estrutural de romances brasileiros (1990), nos poemas deste livro Sant'Anna,
sem exagero, disseca a sombra humana.
No vigésimo texto de O
homem e sua sombra, a voz poética enuncia que determinado sujeito possuía
três sombras, uma que criou, a segunda era inventada e, por fim, a terceira ele
tentava ocultar (dele mesmo e de todo interlocutor).
Em seguida, o leitor é informado que com a primeira
sombra, a que o sujeito criou, ele combatia. Já com a segunda, a inventada,
"ia a festas, gargalhava". Mas, enfim, "era dentro da terceira/
que seu medo cultivava".
O texto de Sant'Anna sugere que pode ser, também, a
sombra que se oculta (na sombra que se nega) o terreno fértil para a criação de
monstros, fantasmas e sentimentos pontiagudos.
Há ainda, como o décimo quarto poema insinua, aqueles
que fogem da própria sombra, "como se o diabo o afrontasse/ como se ela
fosse a morte/ que o ceifasse". Tal sombra, o texto pede passagem,
"era a prova do crime/ por isto, a escondia/ antes que o
incriminasse".
Não podemos nos divorciar de nossa sombra, o vigésimo
quarto poema trata disso, nem é possível trocar de sombra – o que podemos ler
no vigésimo terceiro texto desta obra a respeito (e a partir) daquilo que é parte
essencial e indissociável do que somos e podemos ser.
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