Notícia de um Naufrágio

 

Hoje tem Notícia de um Naufrágio (Prosa Nova, 2022), do Luiz Andrioli:

Este é um caso de obra em que o título, de fato, sem dúvida, anuncia-insinua-sugere, sem entregar, o enredo.

O protagonista, Luiz (mesmo nome do autor), vai naufragar (não é spoiler – a maneira como a narrativa apresenta a sequência de fatos e fragmentos é talvez tão ou mais impactante do que conhecer antecipadamente esse detalhe).

E o naufrágio do personagem tem conexão com o universo da notícia, especificamente o jornalismo televisivo (o escritor, Luiz Andrioli, atuou por anos como repórter de TV).

Notícia e naufrágio fundem-se e compõem parte da tensão do protagonista que luta contra o legado paterno. 

A busca pela sua lenda pessoal, viabilizada por um percurso no jornalismo, não será das mais fáceis – principalmente pelo fato de ele perceber que a ética pode ser colocada em xeque durante a temporada em que atua em uma empresa de comunicação:

“Todo mundo ganhava, menos eu, que era o braçal da história e não sabia de nada. Um laranja com microfone na mão. Idiota com diploma universitário. Apurava as denúncias, corria atrás das fontes, Ministério Público, associações de moradores e da população indignada. A reportagem ficava um estouro, arrebentava no Ibope, cinco, seis minutos no ar [...]. Dias depois, a grana corria solta para aliviar as denúncias.”

Luiz, o protagonista, vai, enfim, participar do sistema de corrupção na TV onde trabalha, movimento que antecede o naufrágio.

Mas, antes do desfecho (evidentemente não vou falar sobre isso), outro drama impacta o personagem-centro: o conflito com o irmão, Fernando.

Mais que diferenças, um abismo impede o convívio entre os irmãos, e um dos fragmentos mais intensos (não o único) da obra coloca os dois em confronto (poderia ser duelo em um filme de cowboys) em uma quadra de futebol de salão – o protagonista é o goleiro:

“Esfreguei as mãos, testei o peso do corpo em cima das pernas, flexionei os joelhos, nos encaramos. A bola veio em elipse. De baixo para cima até a intermediária. Deixei as mãos em concha um pouco acima da testa, acompanhando a trajetória. Logo a curva baixou e ela veio em direção à minha testa. Depois em linha contra o meu nariz”.

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