o que sobra
o que sobra são buracos na sola
do sapato
essa vontade irreprimível de
pegar o próximo trem
meu nariz que não para de
escorrer
o gesto mecânico de secar o
lenço
o jeito quase puritano com que
me movimento
meu lastro de cartões de boas
festas
o sorriso sonso de quem não sabe
por onde andou
o que sobra
é o que chamam de destino
esse travo amargo
e a impossibilidade de beber até
o último trago
Poema de Mário Bortolotto
publicado em Um bom lugar pra morrer (2010).
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