Céu a Pino


Hoje tem Céu a Pino (Patuá, 2022), da Jaqueline Conte:

“Precisa-se”, o último poema do livro, merece atenção: “Outro tema/ outro novo poema/ preciso”.

Ao invés de, por exemplo, concluir, arrematar, “Precisa-se” abre possibilidades – a voz poética indica uma obra em progresso.

Ou, talvez, pode ser sugestão para leitoras e leitores revisitarem o já lido, (re)descobrindo referências.

Em Céu a Pino, a poesia de Jaqueline Conte dialoga com os legados de Manoel de Barros, especialmente pela temática, e da Helena Kolody, neste caso, com a forma brevíssima.

O primeiro poema do livro é um flerte com Barros-Kolody:

“Não há nada/ mais urgente/ que um pôr do sol”.

Em “Quarar à terra”, a citação ao artista pantaneiro é direta:

“Manoel/ de sujeiras, ferrugens, terra/ a encardir nossas almas/ de poesia”.

Já a conversa com a obra de Helena Kolody aparece, por exemplo, em “No ar”:

“O dente-de-leão/ o sopro da vida/ não espera”.

Jaqueline Conte estica o horizonte e oferece outras possibilidades neste livro com 6 capítulos, todos temáticos – e do último, “Da poesia e da arte”, transcrevo o metapoético “Escansão”:

“Pare, seu poeta/ de contar meus versos/ me separar em mim/ fazer-me caber/ onde transbordo// Pare de ditar rimas/ de me impor ritmos/ leve embora sua trena/ pequena ditadora// Que eu comece como quiser/ que eu termine sem fim/ que eu caiba em mil mundos/ e apenas em mim”.

Jaqueline Conte também realiza poemas com recursos de narrativas, especialmente da crônica – seguem fragmentos de “Memórias da vizinhança”, em que há revisitação e/ou invenção de outros passados – um dos destaques de Céu a Pino:

“Turco da Esquina/ era assim que chamavam/ o dono do bazar da rua/ sempre quis descobrir/ o que tinha o tal polonês/ por trás da velha alcunha/ [...] Aquele da baixada da rua/ era um tipo bem quieto/ vinha de nonada/ dele nada se sabia/ Se morresse – / Meu Deus! – um dia/ nem o leiteiro saberia// Na casa 15 vivia/ um menino bem comum/ serelepe, assim, como qualquer um/ mas tinha uma fundeza no olhar/ uma fundeza tão grande no olhar/ que me descabia// Naquela rua cabia bem/ uma dúzia de vizinhos/ que eu desconhecia/ um a um”.

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