Quanto custa um elefante?

 

Hoje tem Quanto custa um elefante? (Editora 34, 2020), do Marcelo Mirisola:

Já faz tempo, e muita, tanta gente sabe, mas nem todos os que conhecem o fato enunciam e repetem: o Marcelo Mirisola é um excelente escritor.

Em algumas de suas narrativas, Mirisola faz um narrador, que leitore(a)s podem confundir com ele mesmo, dizer algo como a seguinte afirmação: o Mirisola é um dos grandes autores do Brasil.

Essa aclamação (necessária) não é exagerada ou vazia, basta ler qualquer um dos livros dele, os mais recentes, então, são preciosidades, como precioso é Quanto custa um elefante?

O narrador (que, enfim, não poucos insistem ser o próprio Mirisola, mas, vale ressaltar, não é) procura e encontra uma mãe de santo para por meio do sobrenatural resolver impasses – há uma personagem (genialmente, menos que isso não tem definição) chamada Ruína.

O diabo, ele mesmo, cobra alguns elefantes (para saber o valor de cada mamífero, por gentileza, leia a obra) antes de realizar o trabalho.

E a partir já das primeiras páginas, o(a) leitor(a), se quiser, tem a oportunidade de ler para crer e não ter mais dúvidas de que Mirisola é autor de frases e mais frases, parágrafos e linguagem, que – não se trata de elogio, mas constatação –comprovam a sua maestria como artista – segue um fragmento:

"Em cinco minutos, a mãe de santo – naturalmente inspirada pelo capeta que me plagiou na cara dura – falou o que a literatura brasileira não teve a capacidade de expressar nos últimos vinte e cinco anos (e vinha muito mais pela frente...):

– O diabo é o governador do mundo e de nossas ilusões, a Terra é um alqueire do inferno, só o diabo tem o poder de devolver o que os intestinos do mundo levaram da gente. Quem ama não pechincha!".

Abracadabra!

Demais.

É sensacional!

Quanto custa um elefante? é uma obra impulsionada e a respeito de obsessões do autor, naufrágio sentimental, carência afetiva, deslocamento no meio literário brasileiro e, mais que tudo, talvez até por causa desses fatores, solidão – daquelas, de um Robinson Crusoé sem radinho de pilha (tudo isso e mais amalgamado em um texto maravilhoso, com ironia, precisão, vasto repertório, bossa e melancolia).


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