Lição da Matéria
Hoje tem Lição da
Matéria (Biblioteca Pública do Paraná, 2018), de Daniel Arelli:
Lição da
Matéria reúne poemas, ao menos para mim, inesquecíveis desde a sua
publicação, em 2018, ano em que a obra conquistou o primeiro lugar no Prêmio
Paraná de Literatura, categoria Poesia – o júri daquela edição foi formado por
Marília Garcia, Ricardo Silvestrin e Wilberth Salgueiro.
Os versos de Daniel Arelli irradiam amplo repertório,
diálogo com presente e passado (e – por que não? – com o futuro), e, pela
riqueza que possui, o conteúdo pode apontar referências ao leitor(a) curioso(a)
que ainda desconhece determinadas obras, certo(a)s autore(a)s, questões
interessantíssimas.
Quarta parte do livro (de um total de 6), "Oficina
abstrata" contém expressivos poemas a respeito da criação artística
– reproduzo a seguir o sexto texto poético de "Teoria do Rascunho":
"Um bom poema// se reconhece pelo corte do verso/
às vezes sequer é preciso ler o poema/ pelo corte do verso sabemos se é bom/
como ele corta ora uma sentença ora uma palavra/ como ele ao mesmo tempo corta/
e é aquele corte/ o poeta está portanto mais próximo/ do alfaiate/ e do açougueiro/
do que do filósofo".
Arelli demonstra saber o ponto do corte e também conhece
formas fixas, mote do fragmento "4" de "Teoria do
Rascunho":
"Elogio da
forma fixa// Não tente encaixar o poema/ na forma/ deixe que ela escreva o
poema/ observe-a de longe como a uma respeitável desconhecida/ ocupada com
algum afazer exótico/ e ancestral".
O conhecimento do fazer poético de Arelli, traduzido em
prática e entrelinhas, surpreende inclusive no minimalismo do fragmento inicial
de "Teoria do Rascunho":
"A poesia é
basicamente uma moenda// o que passar/ se passar/ torna-se poema".
Lição da
Matéria é estreia de um poeta com vasta leitura, hábil em refletir e
experimentar, o que qualquer um dos poemas da obra confirma, seja os já
citados, e mesmo em fragmentos, no caso de "Ontologia da Composição":
"anoto ideias para o poema/ coleciono palavras
aleatórias para o poema/ [...] quando dou por mim parece que o poema/ como que
me permitiu/ escrevê-lo".
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