As aventuras de Lorde Nélson: uma trilogia

 

Hoje tem As aventuras de Lorde Nélson: uma trilogia, do Caléu Moraes (Editora da Casa, 2021):

Ágil, a narração bem conduzida pode até embriagar-atordoar o leitor (atenção, é elogio). E (a palavra, mais do que gasta, é repetida para comentar contos, vai assim mesmo) o nocaute em quem lê pode acontecer devido a inúmeras citações, reviravoltas e ziguezagues que a engenhosa trama apresenta.

A narrativa se faz, aparentemente, em busca de Lorde Nélson, o possível melhor escritor catarinense. O (suposto) objetivo, de uma das vozes que narra, é escrever a História da Literatura de Santa Catarina.

Mas, por haver camadas e sutilezas, esta proposta literária pode facilmente enganar a leitora, o leitor.

Na página 403, pouco antes do fim, é possível ler:

"Deveria escrever a História, pediu-me o colega economista, da Literatura de Santa Catarina, pelo que respondi:

'Como se escreve a história de algo que não existe...? Você quer dizer uma ficção?'".

Ter citado esse fragmento não constitui prática de spoiler (não tem spoiler neste comentário, eu seria incapaz de cometer esse deslize, outros talvez sim).

Dialogando com a obra Jorge Luís Borges (que amalgama dados da realidade, vasto repertório literário e imaginação) e também com o legado de Enrique Vila-Matas (prodígio na metodologia borgeana), a narração de As aventuras de Lorde Nélson: uma trilogia é rica em referências e problematiza a criação literária, contemplando percursos e obras de autores como Salman Rushdie, Yukio Mishima e também escritores nascidos em Santa Catarina, especialmente Cruz e Sousa, Cristovão Tezza e Carlos Henrique Schroeder.

Schroeder é quase onipresente: ele (na realidade) editou o livro e, transformado em personagem, tem a sua voz literária e a trajetória como autor recriadas – principalmente na segunda parte desta obra do catarinense Caléu Moraes que, entre fragmentos de jocosidade, enuncia contundentes críticas:

"A literatura do Brasil nos dias de hoje é quase que uma guerrilha. Ninguém entende ninguém. Não temos autores grandes ou referências que valham a pena. Por isso, eu a comparo às guerras étnicas que massacram a África. Há grupos aqui e ali; quase todos são medíocres."


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