Aranhas
Hoje tem Aranhas
(Record, 2020), do Carlos Henrique Schroeder:
O título da obra e dos 32 contos, cada um com referência
ao nome de uma aranha, podem levar o leitor a elaborar a ideia de teia para
refletir sobre os enredos e as suas conexões – inclusive, na última narrativa,
personagens de contos deste livro vão se conectar, e essa observação não é sabotagem
(muito menos spoiler) com quem
eventualmente ainda não leu Aranhas.
Há narrativas breves, de um parágrafo de extensão (a
respeito das quais não vou comentar), e, enfim, é nos contos que seguem por
algumas páginas que as trajetórias de personagens se esbarram, não raro se
fundem, sugerindo aquela ideia de teia – isso acontece em "Fio-de-ouro (Nephila clavipes)", que inicia com
plano-sequência (o que, entre vários sinais, revela o interesse do autor por
cinema), em que um motorista de Uber conduz Lena até um hotel.
A narrativa, pelo menos em uma das camadas, refaz o
percurso da personagem, que nasceu em uma pequena cidade de Santa Catarina e
foi estudar psicologia em Florianópolis, e, em parte significativa do tempo da
narração, ela atua como garota de programa.
"Cuspideira (Scytodes
thoracica)" é uma das mais engenhosas narrativas do livro, e nela o
protagonismo se esfacela uma vez que as trajetórias de dois personagens estão
conectadas, e ambos dividem o foco do conto.
Amanda é professora em um cursinho, em Florianópolis,
cidade onde Rodrigo vive sustentado pela família com a finalidade de passar no
vestibular da UFSC. Ela recebe cachê, dos pais de Rodrigo, para vigiar e tentar
manter o adolescente autodestrutivo longe de desastres:
"Rodrigo estava nas mãos de Amanda, e não havia um
dia sequer que ele não pensava em matá-la. Mas aí teria que voltar a morar com
os pais. Ou na cadeia.".
Já em "Gladiadora (Deinopis plurituberculata)", mais surpreendente até que o
enredo (confronto entre uma empresária e funcionárias), é o arremate, em que o
narrador (do catarinense-universal Carlos Henrique Schroeder), em diálogo, entre outros, com procedimentos
de Sérgio Sant'Anna (1941-2020), discute como finalizar o texto e apresenta
solução imprevista.
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