poema de plantão
o poema de plantão nasce assim:
roto, esfarrapado, já cansado, coxo
faltam-lhe ocos, sobram-lhe dentros
é uma massa só, compacta, besta
não tem vento, não tem água
só tem um sono imenso
entre as palavras, não flores
e uma trava que lhe fecha os olhos
até que dorme, escandescido, aflito
então acorda, o poema de plantão
já fez sonhar, já esgoelou
já contou os poros dos ossos
já foi buscar alfazema embaixo dos tapetes
já limpou os olhos com pelo de mamute
já bebeu ar de envelope
sobram olheiras
e atravessou-lhe o canto de um cego
que fica na outra esquina
Poema de Marco de Menezes publicado em Fim das coisas velhas (2009).
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