Inventário das sombras: 17 retratos de grandes escritores

 

Hoje tem Inventário das sombras: 17 retratos de grandes escritores (Record, 2022), do José Castello:
A reedição de Inventário das sombras, publicado em 1999, traz mais 3 textos, dois perfis de escritores e um autorretrato do autor.
Ler, e reler, cada um desses textos é experiência inesquecível, e o impacto deve-se à linguagem e ao jeito como Castello lê o legado e as atitudes de cada um(a) do(a)s autore(a)s que ele selecionou.
Experiente jornalista, Castello comenta algo fundamental do ofício em “Tapuia e grego”, capítulo sobre Nelson Rodrigues:
“Ainda que contidas nos limites do protocolo jornalístico, elas [relações entre o repórter e o seu entrevistado] guardam aspectos obscuros que na maior parte das vezes nos escapam, mas que estão todo o tempo presentes, agindo em silêncio. A relação entre o repórter e sua vítima é, ou deve ser, uma relação formal, calcada na clareza, na confiança mútua e na objetividade, e não deve passar disso, mas quase sempre passa. E, quando passa, nem sempre entendemos, nem depois que os anos avançam e a maquiagem desbota, o que se passou, simplesmente porque muitos aspectos ficaram (e ficarão) para sempre perdidos.”
A pensata, mesmo conectada a outros fragmentos do texto a respeito de Nelson Rodrigues, também auxilia a compreender o trabalho de um repórter: muito de uma entrevista perde-se e não entra em uma reportagem – da mesma maneira que muito da leitura de um livro fica de fora de uma resenha ou crítica.
O que eventualmente não entraria, ou ficaria perdido, em uma reportagem ou resenha é destaque nos textos de Inventário das sombras.
É o bastidor, não aquilo que em um texto sensacionalista poderia comprometer um entrevistado, mas o detalhe, gestos, algo recorrente no comportamento, sutilezas que Castello observa e recria em palavras – “João no deserto” é um primor e exemplifica como José Castello capta a essência, no caso o silêncio, do grande João Gilberto Noll.
Instigante, Castello elegeu – para escrever perfis – artistas que descumprem roteiros, seja Dalton Trevisan, que evitou a mídia para tentar valorizar a sua obra, ou Raduan Nassar, que parou de publicar mas não dispensou o papel de escritor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Livro sobre o skate no Paraná será lançado durante a 42.ª Semana Literária Sesc & Feira do Livro, em Curitiba