Cama de pregos

 

Hoje tem Cama de pregos (Grua, 2009), do Carlos Eduardo de Magalhães:

Esse romancista também escreve contos, e Cama de pregos traz 28 narrativas.

Onze, escritas de 1990 a 1993, são relativamente longas.

Breves são as outras, produzidas entre 2000 e 2003.

O primeiro bloco de textos revela um contista que conhece a tradição, de Tchekhov a Machado de Assis, e levando em consideração modelos clássicos, ele elabora textos literários de 14 páginas, a exemplo de “Tereza e o Jaguar”, um dos destaques do livro.

Paulo Aranha, o protagonista, vende a esposa para um empresário árabe, e o conto é uma articulação a respeito do negócio e, mais que tudo, sobre o que motiva o personagem.

Também relativamente extenso, com 16 páginas, “Cinco Estrelas” é uma narrativa elaborada, a exemplo de “Tereza e o Jaguar”, com mais sugestões do que revelação.

“Cinco Estrelas” trata de mais de um assunto, tem conflito familiar, amadurecimento – e o mistério presente da primeira frase até a última palavra credencia o conto como obra de excelência.

Alguns dos 17 textos do segundo bloco foram publicados originalmente em jornais e revistas, e há mesmo narrativas breves, de duas páginas de extensão – nem por isso elas são menos intensas do que as do primeiro bloco.

O conto curto, mais que “contar”, deve sugerir, com precisão, e isso se dá em alguns destes brevíssimos textos do Carlos Eduardo de Magalhães, por exemplo, em “A moça do andar de baixo” – o narrador não conhece a personagem que morreu e toda a narrativa se faz a partir do que ele imagina sobre a ex-vizinha desconhecida.

Se “Desejos”, como o título sugere, elenca sonhos [que o narrador não vai realizar], “Modernidades (ou Morango com chantili)” descreve satisfações de um personagem, mas o ponto alto da segunda seleção de contos de Carlos Eduardo de Magalhães é “Armando”.

O protagonista, nome da narrativa, é um menino que sofreu bullying, tornou-se um poderoso homem público e, adulto, vai reencontrar colegas que o hostilizaram no passado – o desfecho é surpreendente, característica de todo, ou quase todo, conto – nos inesquecíveis certamente é desse jeito o arremate.

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