Balada de uma retina sul-americana

 

Hoje tem Balada de uma retina sul-americana (7Letras, 2006), do Carlos Machado:

Balada de uma retina sul-americana simula um diário, anotações de um viajante que sai de Curitiba e passa por cidades da América do Sul durante 31 dias – cada capítulo-fragmento traz a data com relatos do respectivo dia.

Ao movimentar-se, o sujeito que narra não deixa de reconhecer em cidades sul-americanas fragmentos de sua Curitiba – isso acontece em território uruguaio:

“Uma Curitiba inteira na Praça da Independência.”

Em Buenos Aires, outro reencontro:

“Na feira de San Telmo, encontrei o Largo da Ordem aberto aos milhares, [...] de brinco em brinco, souvenir em souvenir.”

O mesmo também se dá em Mendoza:

“Mas nenhuma noite fria se assemelha à falta dos olhares ao redor: chegar próximo a uma dessas exuberâncias da alta costura parece ser mais difícil que descer um rio mendocino. Sendo assim, nunca olhar pros lados. Nada que nós, de todas as Curitibas, não estivéssemos acostumados.”

Evidentemente que nem só de encontrar Curitibas em outros pontos do sul do continente americano é feita a narrativa de Carlos Machado.

Esta, a terceira obra do autor, diferencia-se dos livros anteriores, A voz do outro (2004) e Nós da província: diálogo com o carbono (2005), ambos reuniões de contos.

Além de ser uma novela, Balada de uma retina sul-americana é marcada por uma quase euforia do narrador, pelo menos até o décimo sétimo dia-capítulo.

A partir daí, mal-estar e melancolia, elementos recorrentes nos contos do autor, passam a ocupar os registros de quem narra, e a talvez-alegria do viajante se transforma, lenta mas irreversivelmente, em outra coisa – e essa outra coisa diz respeito à matéria-prima da mistura de sensações do que dizem ser a vida.

A prosa que Carlos Machado inventa para o narrador da novela enunciar revela mais leveza, contundência e até fluência do que a escrita literária elaborada em seus dois primeiros livros.

O que era muito bom (o texto, a linguagem) torna-se ótimo, e o ótimo da terceira obra vai se transformar em ainda mais excelência nos livros posteriores – até agora ele já teve nove publicados, o décimo, dizem, pode materializar-se ainda em 2022.

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