Cantos temporais
Hoje tem Cantos temporais (OIA editora, 2022), do Fabio Santiago:
O poeta alagoano radicado em Curitiba evita seguir trilhas óbvias, e ele conhece as referências da poesia brasileira, universal.
Distraídos ou sem repertório, sensibilidade e trena para eventualmente enquadrar a poesia de Fabio Santiago, um de nós poderia chutar dizendo que o poeta meramente flerta com o nonsense, e há fragmentos em seus poemas que talvez justifiquem a afirmação:
“Lobos cortados não uivam/ Silenciam/ Lobas cortadas/ escurecem a compulsão”.
Versos avulsos de outros poemas do autor podem confirmar a pensata:
“Dentro do poema existe uma glândula”.
Ou ainda:
“Versos sombrios rasgam a disforia”.
E até:
“Fava em papel luminoso”.
Mas ao ler e reler com atenção a poesia do Fabio Santiago, o que se apresenta é a linguagem de um autor que (conhece a tradição e) experimenta melodias e construções incomuns de sentido – “cidade esmeralda”, reinvenção de Curitiba, é exemplo da potência artística do Fabio Santiago (segue o texto poético na íntegra):
“Estendido vértice solitário do poema/ Corrente elétrica intensa do relâmpago// Espirais em fluxos/ Oxidam a alma/ Segura o pé d’água/ Lampeja// Perambula nuvens/ Vistas vendavais/ Cabeça alçada/ Percorre temporalidades// Calçadão Petit-Pavê/ Desenhado de pinhão e araucária/ Guardei seu rosto// Cúpulas roxas cobriam quiosques/ Sabores pintados da infância// Abre e fecha boca maldita/ Inflama as rugas/ Arde memórias curvadas/ Passeia por xícaras de café// Desce o largo pedra bacia de ferro/ 11 horas relógio florido/ Feirinha cheia/ Águas correntes/ Submarino amarelo/ Baba espuma Steinhaeger// Trovões carregam os ouvidos/ Ecos pensamentos/ Palidez de instante// A valsa triste ressoa no centro/ Juventude balança copas verdes/ Calçadão da cidade/ Não há nada igual// Curitiba parece gear/ Pintor de tuas tempestades/ Cantou flores ruas/ Tem cheiro de lembrança/ Rua XV nunca desbota// Silencio memórias/ Prato de sentimentalidades temporais/ Banhado em brilho singular/ Cidade esmeralda”.
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