A vida não tem cura
Hoje tem A vida não tem cura (Editora 34, 2016), de Marcelo Mirisola:
O destino do protagonista é uma
sucessão de desastres, como se ele fosse personagem da Bíblia, especialmente do Antigo Testamento, ou de Dalton Trevisan,
condenado à danação.
Marcelo Mirisola também inventa
universo próprio, o que inevitavelmente acontece em A vida não tem cura.
Luís Guilherme, personagem central e
narrador, é um professor particular de matemática ou, como a narrativa o
apresenta, professorzinho de matemática delivery.
Ele apaixonou-se por Natasha – "o
nome dela é Belzebu mas também atendia por Natasha".
"Em 1999 morávamos na Vila
Prudente, no sobradinho anexo à casa de mamãe".
Entre os livros (relativamente) recentes
de Mirisola, A vida não tem cura é um
título em que o autor não elogia a si mesmo, grande escritor que é, e também
não vandaliza a literatura brasileira contemporânea – há poucas e sutis
estocadas.
Nesta obra, os alvos de desconstrução
são, principalmente, o legado de Renato Russo e um midiático pastor evangélico.
A desilusão amorosa, obsessão
mirisoliana, também é um dos pilares de A
vida não tem cura:
"Desde que conheci Natasha vivia
assim. Omisso e de rabo abanado. Vivia em função das mentiras e perversidades
dela – ah, e como gostava da vida que levava ao lado de Natasha. A vida não tem
cura, nem que a gente acabe com ela. Nem que a gente se case, faça planos,
tenha amigos maravilhosos e inteligentes, e uma filha linda, uma garota chamada
Maria Clara, Clarinha."
A ambição do protagonista não é
radical, e ele não vai conseguir, jamais, aquele padrão de convívio estável em
casa com a esposa e a filha – a narração é envolvente, outro grande momento na
trajetória desse inimitável escritor que o Marcelo Mirisola é:
"A vida não tem o alto valor que
lhe atribuímos. Nem o amor. Apenas nos dizem algo, vida e amor, quando estamos
vivos e doentes. Ou seja, o tempo todo; agora, por exemplo, quando vejo a foto
de Clarinha e constato que a perdi, constato igualmente que essa perda fez
apenas e tão somente aumentar a falta
que sinto da mãe dela, ora, se é assim com uma singela foto, imaginem com as
lembranças e as felicidades que giram no entorno."
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