Duas formações, uma história: das ideias fora do lugar ao perspectivismo ameríndio

 

Hoje tem Duas formações, uma história: das ideias fora do lugar ao perspectivismo ameríndio (Arquipélago, 2021), do Luís Augusto Fischer:

Não ficção, esta é, para mim, uma das leituras mais instigantes de 2021.

O professor da UFRGS Luís Augusto Fischer empreende ensaio em busca de nova possibilidade de compreender e estudar a literatura brasileira.

Mais até que os apontamentos finais, relevantes, o que também brilha neste livro é o desenvolvimento do ponto de vista de Fischer, especialmente as leituras que ele faz de obras de outros pensadores.

Fischer analisa aspectos dos legados de Ángel Rama, Franco Moretti, Mikhail Bakhtin e Stephen Jay Gould, intelectuais com quem o autor gaúcho conversa para encontrar, como o título de um capítulo sinaliza, "Outras maneiras de pensar história da literatura".

Vale transcrever o trecho da página 295, em que Fischer resume como ele estabelece conexões com os 4 pensadores mencionados no parágrafo anterior (e em parte expressiva do instigante estudo publicado pela Arquipélago):

"Rama com as comarcas, formações não nacionais, e com sua abertura para formas letradas como a canção; Moretti com sua arguição radical da teleologia, com a inclusão das variáveis geográficas na leitura estrutural da narrativa, com a dignificação crítica de obras não canônicas em seu apetite empirista; Bakhtin com sua perspectiva aberta em relação às formas narrativas, ao romance concebido de outro modo que o hegeliano; e Gould com sua lição sobre o valor da variação e sua impetuosa desnaturalização do platonismo, em favor de Darwin e da empiria".

O pesquisador da UFRGS também recorre a outros estudos, especialmente obras de Jorge Caldeira e Eduardo Viveiros de Castro, para discutir, e isso desde o início do ensaio, pontos de vista de Antonio Candido e Roberto Schwarz.

Fischer encerra o debate sugerindo sumário para uma nova história da literatura brasileira, contemplando a tradição oral, a atual literatura feita por indígenas e – entre várias possibilidades e indispensáveis questões – o estudo de obras viscerais, como, por exemplo, Habitante irreal (2011), do Paulo Scott, e Mar paraguayo (1992), do paranaense-universal Wilson Bueno.


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