A dama de branco
Hoje tem A dama de
branco (Companhia das Letras, 2021), do Sérgio Sant'Anna: De inéditos
(incluindo também narrativas publicadas), é o último livro do autor (1941-2020)
que amalgamou ação, pensamento, cenário, visuais, música, teatro e interação
entre personagens de um jeito peculiar, o modo Sérgio Sant'Anna de ficção.
Tanta odara, tanto bim-bom e obalalá e não vai dar para
comentar quase nada do tudo que é A dama
de branco (quase nunca um comentário sobre livro consegue mostrar o que a
obra tem e pode ter, mas enfim).
"A morte não passa de uma obsessão minha", diz
o narrador do conto que dá nome ao livro.
A perspectiva do fim da existência, tema da obra de
Sant'Anna, é recorrente em A dama de
branco.
"A filha de Drácula", que o narrador afirma
ser "talvez meu último e único importante conto", contém elaborações
sobre o que pode ser o depois do morrer: "um dia estarei também eu perdido
no indiferenciado, quando não haverá contagem do tempo e um trilhão de anos se
esvairão em fumaça".
O desejo e o sexo, elementos do legado do artista
carioca, também estão na matriz de algumas dessas narrativas, como em "Um
conto quase mínimo", que tem início arrebatador:
"O importante neste conto quase mínimo é que ele
traga momentos muito breves de felicidade, para quem o lê e para quem o
escreve".
O enredo vai aproximar, durante uma noite, dois
personagens que, em tese, não devem transar. E, para eles, acontece um
inapagável resíduo do que poderia ter sido, não foi, nem nunca será.
Paixão do ficcionista Sérgio Sant'Anna torcedor do
Fluminense, o futebol aparece em "Das memórias de uma trave de futebol em
1955" e em "Tarzan e o império perdido", um conto de formação em
que o narrador magistralmente sugere que alguns atos podem ser definitivos em
uma trajetória:
"Jamais saberei por que a bola subiu tanto e
perdeu-se por cima da trave. [...] Se aquela bola tivesse entrado, minha vida –
e nem falo de futebol – teria sido outra".
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