Tudo pronto para o fim do mundo

 

Hoje tem Tudo pronto para o fim do mundo (Editora 34, 2019), de Bruno Brum:

Revisito, talvez pela quarta ou quinta vez, os poemas deste livro e não encontro a definição que gostaria de enunciar.

Desde a primeira leitura, a impressão – que continuamente se insinua – é a de que o autor é hábil em recriar a oralidade.

Há exemplos para confirmar o que se esboça anteriormente, como o poema "Jovem":

"Jovem deixa óculos em museu/ e visitantes pensam que é obra de arte.// Jovem deixa obra de arte em museu/ e visitantes pensam que perderam os óculos.// Jovem recolhe óculos de museu/ e visitantes pensam qualquer outra coisa.// Jovem, colabore."

Outra potência na recriação da oralidade é "A gôndola mágica":

"Eis a gôndola mágica:/ é idêntica a uma comum,/ só que mágica."

Mas é insuficiente e um tanto atabalhoado afirmar que os poemas de Bruno Brum, especialmente "Jovem" e "A gôndola mágica", apenas reinventam a oralidade, uma vez que ambos, e outros reunidos no livros, contêm linguagem poética, forma, e também aquilo que (também) identifica a poesia deste poeta: ironia.

Talvez ironia não seja o elemento definidor da arte de Bruno Brum – de repente pode ser jogo, zoeira, ou apenas humor, como no idiossincrático poema "Marmitex":

"A alegria tem um sabor/ que não sei explicar./ Lembra frango."

A exemplo da voz poética que não sabe explicar qual o sabor da alegria (mas a define a partir [do sabor?] de uma ave), sigo sem apreender os poemas de Bruno Brum, obras impactantes com desfechos surpreendentes que desafiam uma tentativa, a minha, de decifrá-los – "Oficina de Poesia" é outro enigma exemplar:

"Trabalhe em dois livros, simultaneamente./ Dedique a maior parte do seu tempo ao livro 1./ É nele que você colocará os melhores poemas./ No livro 2, escreva o que vier à cabeça,/ sem muitas preocupações temáticas ou estilísticas./ Ele vai funcionar como um caderno de exercícios/ e provavelmente nunca será lido./ Enquanto isso, continue trabalhando com afinco/ nos poemas do livro 1./ Ao final do processo,/ jogue fora os poemas do livro 1/ e publique o livro 2."

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