Assim somos

 

Hoje tem Assim somos (Kotter Editorial, 2021), de Tomás Eon Barreiros:

O autor conhece (praticando) a teoria do iceberg, elaborada por Ernest Hemingway, para quem apenas parte da história deve aparecer no enredo.

Ou seja, nem tudo, ao contrário, precisa estar em evidência em uma breve narrativa – e dessa maneira podemos ler e apreender Assim somos, de Tomás Eon Barreiros.

"José Antônio Ferreira" recria aquela estratégia de apresentar simultaneamente dois percursos, neste caso, personagens que habitam uma mesma cidade enfrentam problemas semelhantes – eles não se conhecem, um nunca teve acesso ao poder do dinheiro, o outro tem quase tudo em excesso.

No autoexplicativo, já no título, "A vista dos pontos", há duas versões para um mesmo fato: o fragmento "Ele" traz a percepção de um homem, e a versão de uma mulher é narrada em "Ela".

O autor também parece seguir aquela recomendação de que o conto deve surpreender leitoras e leitoras, especialmente em "Pandemia do amor" e "Boneca". Na primeira narrativa, um personagem procura companhia e encontra a morte – no outro texto literário, a busca por prazer resulta em doença e dor.

Já o primeiro, e mais extenso, texto ocupa 60 das 120 páginas de Assim somos.

"Em nome do filho" narra o percurso de um menino que compreende e traduz mistérios em palavras:

"Logo, o número de visitantes começou a aumentar e tornar-se constante. Formavam-se filas. O que perguntar a alguém que sabe tudo? Cada um tinha sua pergunta. A maior parte levava problemas de saúde: Como curo este mal de que padeço? E o menino olhava nos olhos, tocava, apalpava, às vezes perguntava algo, analisava a informação dada e logo respondia. Indicava os remédios, as ervas, as raízes, os regimes, os exercícios, as atitudes – cada conselho conforme a necessidade de quem o procurava."

Nas linhas, e entrelinhas, há referências a religiões, conteúdo também presente em "Tradicional família baiana".

Mas a narrativa (conto ou novela?) "Em nome do filho" amplia a discussão a respeito do sobrenatural, e apresenta pontos de vista distintos e complementares (por exemplo, o olhar do padre, do médico, do delegado, entre outros) a respeito de quem pode ser o misterioso protagonista.


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