Kafka curitibano

 

O Jonatan Silva leu "Cápsulas, bifurcações e overdrive", o meu mais recente livro de contos, e escreveu:

Kafka curitibano

Para o filósofo Byung-Chul Han, vivemos um tempo que não existe mais o isolamento. O bombardeio por informações, produtos e notícias, falsas ou não, é constante e irrefreável. "Cápsulas, bifurcações e overdrive", o livro mais recente de Marcio Renato dos Santos, é a síntese desse apocalipse diário.

Os contos são habilmente construídos, mérito de um artífice experiente e que não está interessado na efemeridade dos likes – que foi objeto de escrutínio do autor. Os personagens são pessoas comuns, que existem, mas não vivem, e estão contra a parede pelas necessidades mais prementes. O livro é cheio de ecos: Machado, Gonçalo M. Tavares, Paul Auster – "Ao som dum gramofone blue" parece saído de um texto de Auster –, Dalton, o nosso patrono, e o mais proeminente, Kafka. 

Como o checo, o curitibano explora a burocracia, as engrenagens e as paralisias sociais e morais intrínsecas à desumanização. Logo no conto de abertura, "18:13 e sozinho", Gabriel, o protagonista, é um homem à deriva, perdido em si e no Passeio Público. Toda essa brutalidade, escondida como normalidade, é a matéria-prima da obra e também de todo o projeto literário de Santos.

"Cápsulas, bifurcações e overdrive" é um livro que não aceira meio-termos e nem lugares-comuns, que exige do leitor dedicação, mas que o recompensa a cada linha em uma prosa atual e dilacerante, sem apelos ou modismos.

E na capa, de Simon Taylor, Marcio conta outra história. São muitos livros em um.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Livro sobre o skate no Paraná será lançado durante a 42.ª Semana Literária Sesc & Feira do Livro, em Curitiba