Impressão sua: poemas
Hoje tem Impressão
sua: poemas (Companhia das Letras, 2021), do André Dahmer:
Primeira e mais extensa parte desta obra, "O livro
dos cães" reúne mais de 50 poemas que em conjunto sintetizam o percurso de
um personagem nascido em 1974, mesmo ano em que o autor nasceu.
Por mais que os dados sejam os do poeta André Dahmer, o
que (entre outros elementos) se destaca nesse conjunto de textos poéticos são situações
que funcionam apesar das informações biográficas, nuances atemporais,
paratodos.
Ritos, por exemplo, poderiam ser de autoria de outro
ocidental, de um oriental até:
"a primeira vez que vi gente morta/ pedi por sangue
de pessoas que eu nem conhecia/ para ser aceito pelo grupo".
Outra cena de afirmação adolescente aparece em dois
poemas nas páginas 24 e 25:
"no judô da sá pereira/ eu e pablo tínhamos dois inimigos/
matias e mateus/ dois irmãos grandes e gordos/ foi pablo quem me ensinou/ se
você bater no mais forte// os outros nunca mais vão mexer contigo".
No poema do dia seguinte, o personagem relata que:
"bati em mateus/ o irmão mais forte// foi
ótimo".
Esse personagem, construído a partir de linguagem e do
imaginário de Dahmer, enuncia, mais de uma vez, que a sua morte vai acontecer
em 2094. Mas, antes disso, ele diz já ter flertado com o fim da existência, por
não respeitar o mar ("o mar me apresentou ao respeito em 1992") ou ao
sentir uma dor no peito, em 2015, após sair de um supermercado ("larguei
as sacolas/ e fui ao chão").
Morte, travessia e também amor, os grandes e inescapáveis
temas estão contemplados na parte inicial de Impressão sua: poemas, em que o personagem-narrador conta que, em
algum momento de sua trajetória, passou a separar pessoas em dois grupos, cães
e gatos [ele não explica, a não ser com os exemplos, a tese e se inclui na
primeira opção]:
"chico buarque é cão/ caetano veloso é gato/ tom zé
é cão/ paula lavigne é gato/ sérgio cabral filho é cão/ paulo maluf é gato/
guga chacra é cão/ william bonner é gato".
Na quarta parte, dois versos sugerem:
"que as grandes mágicas/ não são feitas por
mágicos".
Mágica, sabemos, é arte de poeta – às vezes também desenhista
e artista plástico, como o André Dahmer.
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