Mano, a noite está velha
Hoje tem Mano, a noite está velha (Editora Planeta do Brasil, 2011), do Wilson Bueno:
Mano, a noite está velha apresenta a linguagem exuberante do paranaense-universal Wilson Bueno (1949-2010).
O texto sugere uma conversa entre dois irmãos, o narrador, e o outro, ausente, morto.
Questões as mais urgentes se sobrepõem, sempre com elegância, e um dos temas é o abismo entre os irmãos:
“Distantes um do outro, estabelecemos a regra tácita – o respeito às fronteiras, aos espaços, o meu e o teu mundo, territórios às vezes rispidamente defendidos, às vezes irremediavelmente confrontados. Como na ocasião em que percebendo-o triste, dias seguidos, ousei perguntar, ainda que fraterno, algum problema, mano?, e foi como bofetada a frase que cimentou meu silêncio para sempre: Quem tem problema é você”.
Sexagenário, o narrador demonstra espanto e pesar diante da, para ele, visita cruel do tempo, incluindo a perspectiva do final da existência.
Para materializar a sensação ele cita, ao interlocutor, episódios terminais de personalidades da indústria cultural:
“Marlon Brando você precisa ver, Mano, terminou, acredite, vítima de uma obesidade quase mórbida, recluso numa ilha da Polinésia, morto às pressas em Los Angeles”.
Mas a desilusão não se elabora, para o narrador, e por ele, apenas ao refletir sobre percursos alheios, e sim, e principalmente, ao mergulhar e analisar a própria trajetória a partir de uma perspectiva ampla, a condição humana:
“A vida é triste porque somos inevitavelmente íntimos de nós mesmos e não há quem se suporte quando se olha para dentro – sincero, honesto consigo mesmo, veraz.”
Entre as questões que permeiam Mano, a noite está velha, publicado após o assassinato do autor, a obsessão do narrador pela literatura, pela poesia, pode arrebatar leitoras e leitores, e arrebata:
“Ao contrário dos mortos que nos esforçamos para arrancar de uma anonimidade injusta, são eles, os poetas, os escritores, me parece, que palavra a palavra, frase a frase, nos precipitam às pequeninas mortes de um dia, duas, três horas, quinze minutos, em que nos abduzem, não importa quanto, essa suspensão de tudo em torno.”
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