A voz do outro

 

Hoje tem A voz do outro (7Letras, 2004), do Carlos Machado:

Em recente correspondência por e-mail, o Carlos Machado disse que há uma relação unilateral entre todos os seus livros:

"Existe um jogo desde o primeiro, A voz do outro, um projeto literário que está em andamento. Algo como identificar lugares e personagens com nomes recorrentes, citações de livros e autores que, possivelmente, nem existam".

Em 2022, a Arte & Letra vai publicar o décimo livro do autor, os contos de Flor de alumínio, e, por causa do comentário transcrito no parágrafo anterior, sigo pela primeira obra dele, que li após o lançamento e releio durante esse percurso.

O narrador de "Musical" é um artista em conflito – tema retomado, com nuances variadas, em Poeira fria (2012), Esquina da minha rua (2018) e em outras narrativas.

"Só sei que o teatro está lotado. Não consigo afinar a minha voz. Faltam ainda poucos acordes... Entregue sem fim a sorte ao vento... Sim, essa é a música."

O fragmento é o desfecho de "Musical", que além do tema mencionado, contém fúria – o conto que dá nome ao livro traz, se não fúria, raiva – e essas sensações (raiva e fúria) seriam substituídas por melancolia em futuras obras do autor.

Já o primeiro conto de A voz do outro, "O homem com um longo bigode", coloca em cena um narrador que, por meio de observação, vai inventar biografias para desconhecidos – exercício praticado por não poucos escritores.

Importante citar esse conto, e o motor do personagem, porque – com o primeiro texto ficcional de seu livro de estreia – Carlos em alguma medida assinala simbolicamente que, mesmo se a narração estiver em primeira pessoa, ele não é o narrador nem outro personagem [a afirmação pode soar a mais ingênua de todas (talvez até seja), mas é necessária, uma vez que não é incomum, em Curitiba e em outras cidades, a insistência em ler a obra, e os personagens, em busca de nuances da vida do escritor].

Há uma galeria de solitários na obra do Carlos Machado, Curitiba é recriada, Oscar Wilde, citado em mais de um livro do escritor curitibano, tem outras questões, mas hoje a pensata termina aqui [e, para que não haja dúvidas, recomendo a leitura do instigante A voz do outro].


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